Poluição do ar com pó preto aumenta mais de 50% em 2024


Indicadores são de registros feitos em 12 estações distribuídas por Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica ao longo do ano passado

Estação de monitoramento do ar na Enseada do Suá, em Vitória, registrou a maior taxa de poluentes em 2024 . (Carlos Alberto Silva)

O monitoramento da qualidade do ar na Grande Vitória revela que, ao longo de 2024, a taxa de poluição por poeira sedimentável, popularmente chamada de pó preto, aumentou 50,56% em relação a 2023. No ano passado, foram lançados 965,8g/m² de poluentes na região contra os 641,46g/m² do período anterior.

Os dados são da Rede Manual de Monitoramento de Poeira Sedimentável (RMPS) do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), que faz o acompanhamento, atualmente, por 12 estações distribuídas por Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica.

O ponto com maior captação de poluentes foi na estação do Corpo de Bombeiros, na Enseada do Suá, onde, durante o ano passado, foram registrados 124, 26g/m² de poluição. O mês mais crítico foi setembro de 2024, quando se atingiu a marca de 18,36g/m² — mais de quatro pontos acima do limite legal de 14g/m².

Outras áreas da Capital também tiveram alta concentração de pó preto, captadas nas estações do Hotel Senac, na Ilha do Boi (99,76g/m²) e Ministério da Fazenda, no Centro (90,9g/m²), além dos registros elevados em municípios vizinhos, como na estação da ArcelorMittal Tubarão, em Cidade Continental, na Serra (96,25g/m²), e na Ceasa, em Vila Capixaba, Cariacica (85,88g/m²).

É importante ressaltar que em todas as 12 estações, em 2023, não houve captação de dados em maio ou junho, ou nos dois meses, por intercorrências. Ainda assim, não é possível desconsiderar o aumento da poluição em 2024, se observada a evolução em outros meses. Na Enseada do Suá, por exemplo, o comparativo dos dois períodos revela maior incidência de pó preto em sete meses do ano passado. Setembro, o mais problemático, passou de 10,86g/m² para 18,36g/m².

O Iema destaca que os valores registrados no ano de 2024 mostram que ocorreu um aumento das taxas de deposição de poeira no segundo semestre para algumas das estações.

"A elevação de taxas de deposição e da percepção da poeira são associados a emissões como construção civil, circulação de veículos, ressuspensão de vias, fontes naturais e industriais, somadas à ocorrência a condições meteorológicas que não favorecem a dispersão de poluentes", diz o órgão, em nota.

O Iema pontua, ainda, que no segundo semestre foram observados diversos recapeamentos asfálticos e obras localizadas próximas aos pontos de monitoramento que, segundo o instituto, podem interferir diretamente nos resultados.

Quanto à ausência de dados do monitoramento do pó preto em 2023, o Iema explica que, em maio de 2023, houve imprevistos no processo licitatório para contratação do serviço de coleta e análise das amostras. "Também houve um fato isolado em dezembro de 2023, com baldes de coleta na estação do Hotel Senac Ilha do Boi." Questionado também sobre medidas que possam ser adotadas para mitigar o problema, o Iema diz que busca a redução e o controle das emissões atmosféricas por meio do licenciamento ambiental, do monitoramento e da fiscalização das atividades que causam emissões.

Após a publicação da reportagem, o Iema fez novas considerações e, conforme o entendimento do órgão, não se deve somar dados do monitoramento das diversas estações, pelas localizações distintas e fatores como chuva e vento, nem comparar os indicadores de anos diferentes. Apesar desses apontamentos, os dados da reportagem sobre a poluição registrada em 2023 e 2024 na Grande Vitória mostram que, independentemente dos fatores que levam uma estação a captar mais ou menos pó preto, a emissão de poluentes foi maior no ano passado.


Monitoramento pela população

Desde o início do ano, conforme mostra reportagem de A Gazeta, o órgão estadual disponibilizou, na internet, um meio da própria população monitorar a qualidade do ar, que pode ser classificada em cinco níveis: bom, moderado, ruim, muito ruim e péssimo. Neste caso, não se trata do pó preto, mas de gases poluentes e material particulado invisíveis a olho nu.

As estações emitem boletins diários com dados atualizados a cada hora, com um sistema que começa opera com informações de 0h até 23h59, todos os dias da semana. Em uma escala que vai de 0 (bom) a 200 (péssimo), o portal pontua os riscos relacionados à qualidade do ar e os impactos na saúde.

Para a professora Elisa Valentim Goulart, do Departamento de Engenharia Ambiental e do Núcleo de Pesquisa em Qualidade do Ar (NQualiAr) da Ufes, a população deveria ser mais bem informada sobre os riscos à saúde provocados pelos poluentes. Ela observa que, mesmo no nível bom, há concentração de componentes muitas vezes desconhecidos.

Questionada sobre quais são as principais fontes da poluição do ar, Elisa Goulart disse que o último inventário foi divulgado em 2019 e com dados de 2015, ou seja, faz 10 anos e, ao longo desse período, muitas mudanças ocorreram e os dados podem já não corresponder à realidade. Assim, ela defende a atualização do levantamento para a adoção de medidas necessárias para o controle dos poluentes e melhoria da qualidade do ar.


Fonte: A Gazeta



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