Além de ordenar homicídios e cobrar taxas de comerciantes, Peixão, que diz ser evangélico, é acusado de intolerância religiosa
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Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, de 38 anos, é um dos criminosos mais procurados do Rio de Janeiro. Apesar de acumular 79 anotações criminais e responder a 26 processos no Tribunal de Justiça do estado, ele nunca foi capturado pela polícia. Conhecido pelo perfil violento, Peixão nomeou de Complexo de Israel as cinco primeiras comunidades que dominou: Vigário Geral, Parada de Lucas, Cidade Alta, Pica-Pau e Cinco Bocas — um território vigiado por cerca de 200 fuzis. Nesta semana, a PF descobriu que ele e sua quadrilha encomendavam armas e equipamentos ilegais online para serem entregues em casa.
Além de ordenar homicídios e cobrar taxas de comerciantes, Peixão, que diz ser evangélico, é acusado de intolerância religiosa. Denúncias afirmam que ele chegou a proibir o uso de branco pelos moradores e destruiu terreiros nas favelas em que domina. Em julho do ano passado, circulou pelas redes sociais que o bandido havia determinado a proibição de festejos juninos em três igrejas católicas localizadas no entorno do Complexo de Israel.
Na ocasião, a arquidiocese negou as ameaças do tráfico e disse que os festejos ocorreram normalmente. Apesar disto, na época, foi possível notar uma pichação com a sigla do Terceiro Comando Puro (TCP) a em um dos muros laterais da Igreja de Santa Edwiges, em Brás de Pina. Peixão faz parte da cúpula da facção criminosa citada. O local onde o muro foi pichado fica próximo a um acesso à Favela Cinco Bocas, uma das áreas controladas pelo bandido.
Para marcar seu território, o criminoso costuma usar a bandeira de Israel e frases da Bíblia pintadas nos muros. Na Cidade Alta, o topo de uma caixa d'água ostentava uma Estrela de Davi em néon, símbolo do domínio do criminoso. A estrela foi derrubada neste mês durante uma operação da Polícia Civil e Militar no complexo.
O perfil violento do bandido é conhecido pelos investigadores. Segundo a polícia, ele costuma punir seus inimigos com a morte e é um obstinado quando se trata de infiltrados. Ele foi o primeiro a introduzir o uso de drones para vigilância em suas áreas, a fim de acompanhar a movimentação da polícia e dos concorrentes.
Tentativas de captura
A dificuldade em encontrar o criminoso tem vários motivos. Além de forte poder bélico, que faz uso até de drone para vigiar a polícia e lançar granadas em inimigos, a quadrilha do Peixão espalha barricadas por todas as favelas.
Em fevereiro, as polícias Civil e Militar montaram uma operação de emergência para prendê-lo após receberem a informação de que ele estava escondido em uma casa na Cidade Alta, em Cordovil, na Zona Norte do Rio. A ação levou um caos aos moradores da região. A Avenida Brasil precisou ser fechada e quatro pessoas foram baleadas.
Em janeiro, o ex-porta-voz da PM foi exonerado do comando do 2º BPM (Botafogo) após se envolver em uma confusão em busca do traficante em um prédio na Zona Sul do Rio. O tenente-coronel teria recebido a informação de que o Peixão estaria no local para visitar o pai, um idoso de 70 anos. Não houve confirmação se o homem realmente morava no condomínio.
Em outubro do ano passado, a PM precisou recuar de uma operação no Complexo de Israel após um tiroteio na Avenida Brasil deixar três mortos e três feridos. Na época, autoridades das forças de segurança informaram que os agentes chegaram próximo de um alvo importante para a comunidade. Por isso, segundo a PM, a reação dos criminosos foi de atirar em direção aos civis para desarticular a ação da polícia. Depois dessa ação, Peixão passou a ser investigado por terrorismo.
Imóveis de luxo
No início do mês, a polícia demoliu um local identificado como o "resort" do criminoso. O "oásis" destoava completamente das construções humildes das favelas da região. O espaço contava com piscina, área gourmet, coqueiros e um lago artificial repleto de carpas avaliadas em R$ 80 mil, além de uma piscina particular e espaço para shows. O local também servia como palco para festas, com shows e apresentações de DJs.
Fonte: O Globo