'Não gostou é só sair': Academia onde aluna morreu anuncia retorno das atividades


Em comunicado nas redes sociais, fechado para comentários, direção atacou profissionais e ironizou clientes que se manifestaram durante o fechamento temporário

Dayane de Jesus, de 22 anos, morreu na noite de terça-feira — Foto: Reprodução

A academia em Copacabana onde uma aluna morreu enquanto fazia exercícios publicou um comunicado na noite de quinta-feira para avisar da retomada das atividades nesta sexta. A imagem é acompanhada por um texto que ironiza profissionais e clientes que se manifestaram durante o fechamento temporário. A estudante de Relações Internacionais Dayane de Jesus, de 22 anos, morreu na unidade na Zona Sul do Rio na última terça-feira. No dia seguinte, equipes da Polícia Civil foram ao endereço e interditaram o local. O sepultamento do corpo da jovem está marcado para esta tarde.

O comunicado anuncia: "Voltamos com força total!". Em seguida, a mensagem afirma que os responsáveis pela a academia Forma Fitness são "obcecados por segurança no ambiente de treino" e que pedem "desculpas pela fatalidade". Na última quarta-feira, o local foi interditado após investigações da 12ª DP (Copacabana) identificarem que não havia desfibrilador no local, além de a direção descumprir normas administrativas de socorro na unidade.

Na última terça-feira, segundo testemunhas, a jovem treinava no espaço por volta das 19h quando passou mal, caiu no chão e foi atendida por outro aluno, que seria médico. Uma lei municipal do Rio aprovada em 2022 ampliou os locais obrigados a ter ao menos um desfibrilador para ajudar no socorro, incluindo as academias. A norma diz ainda que os responsáveis devem preparar as equipes para usar o equipamento. Antes, de acordo com o ordenamento estadual de 2021, apenas centros de treinamento deveriam contar com ele.

Academia em Copacabana em que aluna de 22 anos morreu fez publicação sobre a retomada das atividades — Foto: Reprodução / Instagram

A direção ainda afirma que quem discorda da postura adotada pela unidade após a morte de Dayane, seja cliente ou funcionário, deve deixar o espaço. "Mas também serviu para ver qual cliente / funcionários fecham com a empresa. Aos que trabalham na empresa como personal e discorda, cai fora... Ninguém está aqui obrigado... A empresa tem dono! Não gostou é só sair...", diz um trecho do comunicado.

A publicação destaca que os alunos terão três dias acrecidos ao contrato para compensação do tempo da interdição. Nesta sexta-feira, o funcionamento será em período normal, segundo consta o aviso. "A vida é um sopro, mas vamos vivê-la intensamente! Bom treino nesta sexta-feira!!!", diz parte do comunicado. A publicação não tem espaço para comentários, mas recebeu interações através de curtidas.

Uma hora antes de divulgar este comunicado, também através de seu perfil, a academia publicou na noite de quinta-feira uma "nota oficial" assinada por advogados que comunicava sobre o "reestabelecimento imediato das atividades". "Inicialmente, a academia lamenta, com veemência, a fatalidade ocorrida no último dia 20. Desde o ocorrido, a academia se colocou à disposição da família e dos amigos de Dayane para o que se fizesse eventualmente necessário", diz um trecho do documento.

Apenas na quarta-feira a academia divulgou em seu perfil uma nota em que lamenta a morte de Dayane. No texto, eles informam que a unidade não abriria na quinta-feira. Na ocasião, um trecho do texto dizia que "em respeito à memória da aluna falecida, à sua família e amigos, e em consideração ao luto de toda a nossa comunidade, informamos que a academia permanecerá fechada". Nesta sexta-feira a publicação não consta mais no perfil da academia.

Nota divulgada nas redes sociais da academia onde jovem de 22 anos morreu em Copacabana — Foto: Reprodução / Instagram


Caso em investigação

Segundo o delegado Angelo Lages, titular da 12ª DP, o laudo do Instituto Médico-Legal (IML) foi inconclusivo, e um laudo complementar mais detalhado foi solicitado para saber a causa da morte de Dayane.

— O cerne da investigação é verificar se o desfibrilador poderia evitar a morte da aluna. Caso fique comprovado que o equipamento poderia ter salvo a vida dessa jovem, o responsável da academia pode responder por homicídio culposo, uma vez que ele não adquiriu um equipamento obrigatório para salvaguardar a vida dos alunos — afirmou Lages.

A polícia enviou a documentação sobre a interdição para a prefeitura, responsável por aplicar a multa pela falta do equipamento necessário na academia. Os investigadores querem ouvir testemunhas da hora da morte.


Sepultamento nesta sexta-feira

O sepultamento do corpo de Dayane de Jesus está marcado para esta sexta-feira, a partir das 13h30, no Cemitério São João Batista, em Botafogo.

Dayane cursava Relações Internacionais na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e se formaria neste semestre. A estudante, que faria 23 anos no próximo dia 13, já trabalhava na área. Além da academia, tinha como atividade o balé, que trazia desde a infância.

Fonte: O Globo




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