Norte e Noroeste do ES registram mortes em massa de abelhas e envenenamento é investigado


Veterinários foram até os locais, em propriedades de Boa Esperança e São Mateus, e coletaram animais mortos para entender se agrotóxicos podem estar ligados à causa da morte

Abelhas mortas no Norte do ES Crédito: Raphael Verly

Apicultores de Boa Esperança, no Noroeste do Espírito Santo, vêm registrando a mortandade de milhares de abelhas – quase 100% dos insetos – em apiários da região desde segunda-feira (5). O Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf) foi até a cidade com veterinários na quarta-feira (8), e uma das suspeitas levantadas pelo órgão é a possibilidade de intoxicação dos insetos por agrotóxicos.

Caso semelhante aconteceu com apicultores de São Mateus, no Norte capixaba, quase a 60 quilômetros de Boa Esperança. Eles também tiveram mortes de abelhas nas colmeias no início deste ano.

As equipes do Idaf coletaram o material para analisar a causa oficial da morte dos animais. Pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) também acompanham o caso. Enquanto isso, produtores apontaram prejuízo na colheita de mel e perdas na lavoura de café (por causa da falta de polinização), além os impactos negativos para o meio ambiente que a falta das abelhas pode representar.


Cenário assusta apicultores

O apiário com colmeias vazias e quase 100% das abelhas mortas ao redor preocupou o produtor rural Carlucio Tambaroto, que possui 22 caixas com os insetos. "Foi um susto muito grande ter chegado aqui na propriedade e ver essa mortandade de abelhas", comentou.

O cenário com várias abelhas mortas é o mesmo ao redor da produção de Carlucio, onde outras seis propriedades possuem, juntas, 50 caixas em uma área de cerca de 35 hectares. Quem encontrou os insetos mortos foi o apicultor Aldo Batista durante uma visita de rotina. O homem tem um consórcio com os produtores de café e pimenta na cidade desde 2011. "Passamos para fazer uma averiguação normal e constatamos uma boa mortandade. O maior prejuízo aqui é ambiental. Porque isso aqui é um trabalho de criação de abelha e exploração da atividade", destacou.

Trabalho do apicultor, que cultiva abelhas Crédito: Reprodução/Redes Sociais

O apicultor destacou que o objetivo dos apiários é a reprodução das abelhas não só para o comércio de mel, mas também para a polinização, importantíssima para fazer o café florescer e produzir, por exemplo.

Sem as abelhas, o produtor de café já calcula um prejuízo de 30% na produção de café conilon. "Se não tiver abelha para fazer o pólen do meu café, eu já perco a produção do próximo ano. Vou ficar no prejuízo. É uma perda de 30% a 35%", comentou Carlucio.

Em São Mateus, os apicultores também registraram mortandade de abelhas e levantaram a possibilidade do uso de agrotóxico nas lavouras vizinhas ser um dos fatores que podem ter levado à morte dos insetos. "Não só aqui na região de São Mateus, mas em outros municípios também, uns amigos meus estão reclamando que está acontecendo essa mortandade de abelhas. A gente acha que é o veneno, mas queríamos ter certeza", disse o produtor Doriedson Cosme.

Abelhas mortas em propriedade do Norte do ES Crédito: Raphael Verly


Importância para o meio ambiente

O coordenador do Laboratório de Abelhas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) de São Mateus, Vander Calmon Tostas, explicou o papel das abelhas para o ecossistema e levantou a possibilidade da causa da morte dos animais.

"No geral, as abelhas são insetos polinizadores. Mais de 70% da Mata Atlântica é polinizada por abelhas. Essa foi uma mortandade de vários ninhos ao mesmo tempo, todas as abelhas morrendo de uma vez só. Quando isso acontece, geralmente existe algum tipo de agroquímico envolvido", apontou.

A médica veterinária do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), Gizele Lima, realizou a coleta de algumas abelhas ainda vivas e outras com sinais de morte recente na propriedade para análise.

"A análise clínica da médica-veterinária já permite constatar que não se refere a doenças das abelhas, sobretudo por conta da ausência de pragas nas colmeias e mortalidade acima de 30% dos enxames. Diante disso, suspeita-se de eventual intoxicação. Porém, apenas com o resultado da análise será possível indicar a causa", destacou o Idaf.


O Idaf estimou que em até 30 dias deve receber os resultados dos exames. "Caso não seja mesmo doença, pode ser algum caso de intoxicação. E intoxicação pode ser por qualquer princípio ativo. Só o laboratório consegue bater o martelo e apontar o diagnóstico", pontuou a veterinária.

Ainda de acordo com o órgão, foram recebidas, entre julho de 2024 e maio de 2025, 11 notificações de mortandade de abelhas em cidades:
  • Cachoeiro de Itapemirim e Linhares: suspeita de infestação pelo pequeno escaravelho das colmeias (Aethina tumida).
  • Nova Venécia e Santa Teresa: intoxicação por agrotóxico. Nesses casos, o Idaf realizou uma investigação nas propriedades vizinhas, a fim de identificar eventual uso irregular, mas não foi possível constatar a vinculação com o caso. Ainda assim, o órgão orientou os produtores da região quanto às boas práticas de aplicação desses produtos e a possibilidade de aplicação de penalidade, em caso de reincidência e comprovada a irregularidade.
  • Afonso Cláudio, Rio Bananal e Serra: não houve coleta devido ao prazo entre a ocorrência da mortalidade e a notificação ao Idaf.
  • São Mateus, Boa Esperança e outra ocorrência em Santa Teresa, o Idaf aguarda o resultado das análises.

Fonte: A Gazeta



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