Para que servia misteriosa muralha de 321 km no deserto de Gobi? Estudo descobriu


Construída entre os séculos 11 e 13 d.C., a estrutura se estendia do território da China até a Mongólia e apresentava um papel multifuncional; entenda

Escavações ao redor da estrutura da Muralha de Gobi — Foto: M. Ullman

Com 321 km de extensão, atravessando os desertos montanhosos do Leste Asiático, a Muralha de Gobi faz parte de um complexo sistema que se estende da China até a Mongólia. Por séculos, sua origem, função e contexto histórico permaneceram desconhecidos, mas uma expedição recente parece ter descoberto, por fim, evidências convincentes sobre como se deu a sua construção e quais eram os seus propósitos – para além de defender territórios, é claro.

O estudo foi liderado por pesquisadores da Universidade Hebraica de Jerusalém, e combinou imagens de satélite, levantamentos terrestres e escavações direcionadas para investigar a estrutura na província de Ömnögovi. Os resultados aparecem em um artigo na revista científica Land publicado no dia 16 de maio.


Descobertas inéditas

Usando técnicas de sensoriamento remoto e escavações direcionadas, a equipe estimou que a Muralha de Gobi foi construída principalmente entre os séculos 11 e 13 d.C., sob a dinastia Xixia, ou Império Xia Ocidental. O império liderado por Tangut controlava partes da China Ocidental e o sul da Mongólia na época.

A construção principal da estrutura ocorreu durante um período de significativa transformação geopolítica. Contrariando, porém, a visão tradicional de tais muralhas como exclusivamente defensivas, a pesquisa destaca o seu papel multifuncional na demarcação de fronteiras, na gestão de recursos e na consolidação do controle imperial.

Toda a fortificação é feita de taipa, apoiada por reforços de pedra e madeira, ilustrando o uso adaptativo de materiais locais neste ambiente árido e remoto. Além disso, a análise ecológica e espacial da pesquisa mostra que a rota da muralha foi cuidadosamente selecionada com base na disponibilidade de recursos, especialmente água e madeira.

O estudo notou também também que a implantação dos fortes e das guarnições aproveitou características geográficas naturais do deserto, como passagens de montanha e dunas de areia, para aumentar a eficácia da muralha. Veja:

Trecho do muro de pedra preta. (A) Fotografia aérea de drone mostrando o trecho preservado do muro de pedra atravessando a encosta. (B) Mapa topográfico ilustrando o posicionamento estratégico do muro sobre o pico Kherem Öndör, com segmentos diferenciados de terra (linha vermelha) e de pedra (preto) — Foto: Golan et al.


Novos insights sobre o passado

“Esta pesquisa desafia antigas premissas sobre os sistemas de fronteiras imperiais na Ásia Interior”, explica Shelach-Lavi, coautora do projeto, em comunicado. “O Muro de Gobi não era apenas uma barreira, era um mecanismo dinâmico para governar o movimento, o comércio e o controle territorial em um ambiente desafiador”.

As descobertas oferecem insights críticos sobre a interação entre adaptação ambiental e poder estatal em impérios medievais, com implicações mais amplas para a compreensão da infraestrutura antiga e seu legado nos cenários políticos e ecológicos atuais. Com isso, a Muralha de Gobi se junta ao grupo das grandes infraestruturas históricas do mundo, não apenas por suas dimensões e durabilidade, mas também por seu papel na formação da política e da ecologia da época.

Fonte: Revista Galileu




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