Turma de alunos de Cachoeiro de Itapemirim superou 21 concorrentes de diferentes países. Projeto ainda incluiu ações sociais e uso criativo de materiais acessíveis
Robô de MDF: estudantes do ES ganham prêmio internacional inédito
Uma equipe composta por seis estudantes de Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo, fez história ao conquistar o 1º lugar geral no FTC Premier Event México, evento de robótica educacional realizado entre os dias 22 e 24 de maio, na cidade de Monterrey, no México. É primeira vez que uma equipe brasileira vence essa categoria da competição internacional.
Representando o Brasil com o robô Fúria da Noite, nome inspirado no filme 'Como Treinar o Seu Dragão', os estudantes enfrentaram 21 equipes de países como Estados Unidos, México, Venezuela e Guatemala, incluindo também três equipes brasileiras, dos Estados do Rio de Janeiro, Goiás e São Paulo.
A equipe é composta pelos estudantes Alicia Lima Carari, Laura Gomes Roberte Silva, Henrique Silva Sant’Anna, Gabriel Fragoso Ferreira, Eduardo Cereza Rodrigues e João Vitor Miranda de Oliveira, todos do 1º e 2º anos do Ensino Médio, com idades entre 15 e 16 anos, e orientação dos professores Leandro Bayerl e Natanael Tomazeli.
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Alunos do Sesi de Cachoeiro ganharam prêmio internacional por robô feito com MDF Crédito: Sesi/Divulgação |
O professor Natanael acompanhou os jovens na viagem, destacou o ineditismo da conquista. “É um resultado inédito para o Brasil. Nunca uma equipe brasileira havia vencido essa categoria. Foi a primeira competição internacional dos alunos, e também a primeira vez que eles viajaram para fora do país. Estão todos muito felizes”, celebrou o professor.
A equipe participou do torneio na categoria First Tech Challenge (FTC), uma das divisões da instituição FIRST, voltada ao desenvolvimento de robôs autônomos e controlados, que confirmou o ineditismo da vitória na categoria por uma equipe do Brasil.
A competição simula desafios do mundo real com temáticas anuais, e, neste ano, o foco foi a exploração sustentável dos oceanos.
Tecnologia acessível e inspiração na natureza
Com dimensões de 45x45x43 cm, o robô Fúria da Noite foi projetado para coletar e manipular peças em uma arena de 6x6 metros, simulando a retirada de amostras do fundo do mar.
Durante a ação, o robô precisava coletar amostras na área demarcada e depositar em cestas que ficavam em diferentes alturas e distâncias, ou então entregavam o material para o membro da equipe colocar uma identificação e depois o equipamento pegava novamente o objeto.
Uma das inovações que chamou a atenção dos juízes foi o uso de MDF curvado e conceitos de biomimética, inspirados na estrutura do bambu, para tornar a criação leve, resistente e de baixo custo. Toda a caixa principal do Fúria da Noite - que aparece pintada de preto - é feita do material. O robô também tem um braço articulado.
“Somos uma equipe iniciante, com recursos limitados. Buscamos soluções criativas. Essa escolha pelo MDF e o conceito de flexibilidade inspirado no bambu foi o que nos garantiu o prêmio de inovação na etapa nacional e nos credenciou para essa disputa internacional”, explica o professor.
O MDF (Medium Density Fiberboard) é um material composto por fibras de madeira trituradas e aglutinadas com resina sintética, sob alta pressão e temperatura.
Além da construção do robô, os alunos também precisaram desenvolver documentação técnica e apresentar o projeto a juízes internacionais, tudo em inglês. Apenas dois alunos da equipe são fluentes no idioma, o que foi mais um desafio superado.
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Robô criado por alunos do Sesi, em aula de robótica, que tem sua estrutura feita por MDF Crédito: Sesi/Divulgação |
Impacto social da robótica
Uma das exigências da competição é a demonstração do impacto social do projeto, incluindo ações comunitárias. A aluna Alicia Lima, de 16 anos, destacou essa parte como uma das mais transformadoras da experiência:
“Não é só construir o robô. A gente tem que mostrar como isso impacta outras pessoas. Fizemos oficinas em escolas públicas, levamos a robótica para uma comunidade quilombola, demos workshops em bairros de vulnerabilidade social e apresentamos nosso projeto em um shopping da cidade. Isso mudou a minha vida completamente”, falou.
Alicia entrou na turma de robótica no início de 2023 e ajudou a fundar a equipe Tech Dragons. Desde então, mergulhou no aprendizado técnico e humano que o projeto proporciona.
“Foi difícil conciliar tudo, porque somos uma equipe pequena, começando do zero. Mas aprendemos muito. Vencer esse prêmio mostrou que valeu a pena cada esforço”, contou.
Recepção com festa
A premiação “Innovate Award” para o grupo consistiu em um troféu e medalhas, trazidos com muito orgulho para o Espírito Santo.
No retorno ao Brasil, na última segunda-feira (26), os campeões foram recebidos com direito a desfile em carro aberto acompanhado pelo Corpo de Bombeiros e festa na chegada à escola, localizada no bairro Alto Monte Cristo.
Nos vídeos divulgados pela escola, os jovens chegam em grande estilo com o troféu e são aplaudidos pelos colegas, professores e funcionários.

Apoio educacional
A preparação da equipe começou em setembro de 2024, com o lançamento da nova temporada da FTC. Após vencerem o prêmio de inovação na etapa nacional, em março, os alunos garantiram vaga no evento internacional.
Todo o transporte, alimentação e hospedagem foram custeados pela escola dos alunos, o Sesi de Cachoeiro de Itapemirim. Apenas as despesas com passaporte e visto ficaram por conta das famílias. A delegação contou com os seis alunos, dois professores e uma representante regional da instituição.
“A escola nos dá toda a estrutura — laboratório, maquinário, espaço físico. Isso faz muita diferença e aumenta a vontade dos meninos de continuar. Estamos muito orgulhosos”, afirmou o professor Natanael.
Fonte: A Gazeta