Deportado por engano é preso nos EUA denovo e pode ser enviado à África


Kilmar Abrego Garcia, que se tornou símbolo contra políticas migratórias de Trump após ter sido deportado para El Salvador e trazido de volta aos EUA, entregou-se a agentes de imigração em Baltimore. Ele pode ser deportado novamente nos próximos dias.

Kilmar Abrego Garcia, o imigrante deportado por engano pelo governo Trump para El Salvador no primeiro semestre e trazido de volta para os Estados Unidos em junho, foi detido novamente por agentes de imigração nesta segunda-feira (25) após se apresentar ao Serviço de Imigração e Controle de Alfândega (ICE, na sigla em inglês).

Salvadorenho de 30 anos, Kilmar se transformou em um símbolo das rigorosas políticas anti-imigração do segundo mandato de Donald Trump. Sua deportação ganhou repercussão mundial e representou uma batalha entre a Casa Branca e a Justiça americana.

Agora, ele pode ser deportado novamente pelo governo Trump nos próximos dias, e o possível destino está entre Uganda ou Costa Rica, segundo agências de notícias. A secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, afirmou nesta segunda que o ICE "está conduzindo o processo para a deportação" de Kilmar e fez uma série de acusações contra ele.

"O presidente Trump não vai permitir que este imigrante ilegal, membro da gangue MS-13, traficante de pessoas, agressor doméstico em série e predador de crianças continue a aterrorizar os cidadãos americanos", afirmou Noem. Apesar das acusações, a Justiça dos EUA não encontrou provas críveis ligando Kilmar à gangue salvadorenha.

Kilmar foi deportado para El Salvador por engano pelo governo Trump em março e trazido de volta em junho após decisões judiciais que contrariaram a vontade do presidente de mantê-lo lá. Em El Salvador, ele ficou em uma megaprisão de Bukele conhecida por condições severas, onde disse ter sido torturado.

Na volta para os EUA, Kilmar foi para uma prisão no Tennessee. Libertado sob custódia na sexta-feira, ele tinha voltou para casa, em Maryland.

Kilmar se entregou ao ICE em Baltimore, no estado de Maryland, por volta das 8h30 no horário de Brasília (7h30 no horário local) desta segunda-feira, segundo seu advogado. Ele tinha uma entrevista de custódia marcada para as 9h, procedimento comum para imigrantes em liberdade provisória.

Cercado por apoiadores que gritavam “sim, é possível” em espanhol em sinal de resistência, Kilmar e sua esposa se abraçaram no saguão do prédio antes de passar pelo controle de segurança, e ele parecia visivelmente emocionado, segundo imagens da agência de notícias Reuters. 

“Quando fui preso, eu sempre me lembrava dos momentos lindos com minha família, momentos de ir ao parque, de brincar no pula-pula com meus filhos. Esses momentos vão continuar me dando esperança para seguir nessa luta. Não perderemos a fé. A todas as famílias que foram separadas ou que já foram ameaçadas com separação familiar, este governo nos atingiu com força. Mas quero dizer uma coisa a vocês: nunca percam a esperança", afirmou Kilmar antes de se entregar.

Kilmar Abrego Garcia, imigrante deportado por engano pelo governo Trump, apresenta-se ao escritório do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) dos Estados Unidos em 25 de agosto de 2025. — Foto: REUTERS/Elizabeth Frantz

Segundo seus advogados, autoridades do governo Trump ofereceram deportá-lo para a Costa Rica, que fica na América Central e tem espanhol como língua oficial, assim como seu país natal, El Salvador, caso ele aceitasse se declarar culpado pelas acusações de transporte de imigrantes vivendo ilegalmente nos EUA.

No entanto, Kilmar se declarou inocente e seus advogados buscam negociar um acordo com o governo Trump para evitar a deportação para Uganda. Sem um acordo, ele poderia ser enviado ao país africano, considerado “muito mais perigoso”, segundo documentos judiciais apresentados no sábado. O governo de Uganda disse na semana passada ter chegado a um acordo com os EUA para receber imigrantes ilegais que Trump queira deportar.

A defesa de Kilmar Garcia também pede ao juiz federal Waverly Crenshaw, de Nashville, responsável pelo caso criminal, que rejeite as acusações, sob o argumento de que o imigrante está “perseguido e processado de forma seletiva” pelo governo Trump em retaliação por contestar sua deportação anterior.

Multidão de apoiadores de Kilmar Abrego Garcia protesta contra nova detenção do imigrante salvadorenho, que foi deportado por engano pelo governo Trump no primeiro semestre e trazido de volta aos EUA meses depois, em Baltimore, no estado de Maryland, em 25 de agosto de 2025. — Foto: REUTERS/Elizabeth Frantz

O salvadorenho havia sido deportado para El Salvador pelo governo Trump apesar de uma decisão judicial de imigração de 2019 determinar que ele não fosse enviado para seu país natal devido ao risco de perseguição por gangues. Ele foi trazido de volta aos EUA em junho para responder a acusações criminais.

Seu caso ganhou destaque porque, durante meses, o governo Trump não tomou medidas aparentes para trazê-lo de volta, apesar do reconhecimento de uma autoridade de que sua deportação havia sido um “erro administrativo” e de uma ordem judicial federal determinando seu retorno.

No mês passado, Crenshaw confirmou a decisão da juíza Barbara Holmes de libertar Kilmar da prisão preventiva, considerando que ele não representava perigo à comunidade nem risco de fuga.

Kristi Noem afirmou que o governo dos EUA ainda o considera um criminoso perigoso e um infrator das leis de imigração, chamando-o de “monstro” que foi solto por “juízes liberais ativistas”.


Fonte: G1



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