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Cães selvagens se alimentam de cadáveres e atacam moradores na Cidade de Gaza — Foto: Reprodução/Instagram |
A brutalidade da guerra em Gaza não atinge apenas os moradores. Com a cidade em ruínas e cadáveres espalhados pelas ruas após meses de ofensivas israelenses, até os animais têm seu comportamento transformado. Em meio à crise de fome, moradores relatam que cães vadios, sem acesso a alimento, passaram a devorar corpos humanos e a atacar pessoas nas ruas.
— À noite, ouvimos os cães a uivar. Tornaram-se selvagens de tanto comerem cadáveres. O seu ladrar mudou, tornando-se feroz — contou à CNN o palestino Majdi Abu Hamdi, de 40 anos e pai de quatro filhos, em matéria publicada nesta segunda-feira.
Segundo ele, os ataques não se limitam a humanos: — Há dois dias, por engano, um gato passou perto deles. Mais de vinte cães atacaram-no e despedaçaram-no.
As cenas de violência envolvendo os animais ilustram a degradação da vida cotidiana na Cidade de Gaza. A escassez de comida, o colapso dos serviços de higiene e a ausência de estruturas de controle transformaram as ruas em ambientes inseguros, tanto pelo risco de confrontos armados quanto pela ação de cães famintos.
Relatos de moradores indicam que a população, já debilitada pela fome e pela má alimentação, passou a temer também ataques dos animais. Famílias relatam que evitam circular após o pôr do sol, quando os cães uivam e patrulham as ruas em busca de alimento.
Pela primeira vez, ONU confirma fome na Cidade de Gaza
Pela primeira vez, a Cidade de Gaza foi oficialmente apontada como em estado de fome, segundo relatório divulgado nesta sexta-feira pela Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês), órgão apoiado pela ONU e responsável por monitorar a insegurança alimentar no mundo. O documento indica que 500 mil pessoas enfrentam condições "catastróficas" no enclave, caracterizadas por fome extrema, miséria e risco elevado de morte.
Autoridades das Nações Unidas argumentaram que o cenário poderia ter sido evitado por ações de Israel, e apontaram o uso da fome para fins militares como um crime de guerra. O governo israelense classificou o anúncio como uma "mentira descarada".
O relatório do IPC indica que a Província de Gaza, que inclui a principal cidade do enclave e totaliza cerca de 20% do território, englobando municípios vizinhos e campos de refugiados, está enquadrado na fase 5 da Escala de Insegurança Alimentar Aguda (AFI, na sigla em inglês), a mais severa auferida pelo padrão internacional.
Apenas quatro vezes a classificação de fome foi constatada pelo órgão desde que o padrão foi criado em 2004: na Somália (2011), no Sudão do Sul (duas vezes, em 2017 e 2020), e no Sudão (2024).
Fonte: O Globo