Empresário que matou gari a tiros tem currículo de mentiras. Entenda


O empresário Renê Nogueira Júnior alegava formações em universidades renomadas, mas, ao Metrópoles, instituições negaram vínculo


Curso em universidade internacional renomada, graduação em instituição brasileira de prestígio e mestrado em uma universidade pública de destaque. Nas redes sociais, o empresário Renê da Silva Nogueira Junior, preso na última segunda-feira (11/8) suspeito pelo assassinato de um gari em Belo Horizonte (MG), ostentava um currículo exemplar. Mas boa parte dessa trajetória acadêmica é falsa.

O Metrópoles contatou cada uma das instituições citadas por Renê em seu perfil no LinkedIn (rede social voltada para o mercado de trabalho) e constatou que parte das formações adicionadas era inventada ou distorcida, revelando um histórico recheado de informações não condizentes com a realidade.


Empresário mata gari a tiros

  • O empresário René da Silva Nogueira Junior é suspeito de matar a tiros o gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, durante o trabalho de coleta de lixo, em Belo Horizonte (MG), após uma discussão de trânsito.
  • O conflito começou quando René pediu que o caminhão de lixo fosse retirado da via para a passagem de seu carro elétrico. Testemunhas disseram que havia espaço para o veículo passar.
  • Após discutir com a motorista do caminhão, René desceu armado, ameaçou atirar no rosto dela e disparou contra Laudemir, atingindo-o na costela.
  • Laudemir foi socorrido, levado ao hospital, mas morreu devido a hemorragia interna causada pelo projétil, que ficou alojado no corpo.
  • Renê foi localizado e preso horas depois, em uma academia de luxo no bairro Estoril, em ação conjunta das polícias Civil e Militar.

A reportagem entrou em contato com a defesa do empresário em busca de posicionamento e esclarecimentos, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestações.


Mentiras no currículo

Renê Nogueira Júnior afirmava ter mestrado em Agronomia pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq-USP), em Piracicaba (SP). A instituição negou que ele tenha realizado o curso e esclareceu que, no máximo, ele pode ter feito algum curso de extensão, sem emissão de diploma.

A Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), onde o empresário alegava ter graduação em Administração, também desmentiu o vínculo, afirmando que ele “nunca fez nenhum curso, graduação ou pós-graduação” na instituição.

Na Harvard Business School, onde dizia ter cursado o “Manage Mentor Course”, não há registro de sua participação ou recebimento de diploma. O mesmo ocorreu com a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), que informou não haver histórico acadêmico do empresário.

A Fundação Getulio Vargas (FGV), o Ibmec e a Universidade Estácio de Sá não forneceram detalhes, alegando que não divulgam informações sobre alunos ou ex-alunos.


Disputa judicial com a faculdade

Apesar de a Estácio não confirmar a formação, em agosto de 2023, Renê moveu ação contra a instituição. Ele alegava demora na emissão do diploma de Marketing e o trancamento de um curso de Nutrição, pedindo indenização por danos morais e materiais.

A Justiça Estadual, porém, declarou-se incompetente para julgar o caso. Seguindo entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), processos sobre emissão de diplomas em instituições privadas do Sistema Federal de Ensino devem ser analisados pela Justiça Federal. O processo foi extinto sem análise do mérito.


Único curso confirmado

A Universidade de São Paulo (USP) confirmou que Renê da Silva Nogueira Junior concluiu na instituição apenas um curso de especialização em Bens de Varejo e Consumo, em outubro de 2020. Não há registro de MBA ou mestrado, como ele afirmava.


Desligamento de empresa

No LinkedIn, Renê se apresentava como diretor de negócios da Fictor Alimentos Ltda., onde havia ingressado há menos de duas semanas. Também listava passagens por empresas como Red Bull, BRF, Ypê, Kraft Heinz, J. Macêdo e Ambev.

Após a prisão, a Fictor divulgou nota informando que não mantém mais vínculo com ele, repudiou o crime e manifestou solidariedade à família da vítima.

Antes da repercussão do caso, o empresário mantinha uma presença ativa no Instagram, com cerca de 28 mil seguidores. No perfil, se descrevia como “cristão, esposo, pai e patriota”. Todas as redes sociais foram excluídas após a prisão.


Prisão preventiva

Renê da Silva Nogueira Júnior foi preso no mesmo dia do crime, em uma academia de luxo. A Justiça decretou sua prisão preventiva após audiência de custódia, a pedido do Ministério Público.

“[Tendo em vista] todo esse contexto, gravidade concreta dos fatos, reiteração delitiva do agente, eu acolho, por garantia da ordem pública, integralmente o parecer ministerial e converto seu flagrante em prisão preventiva”, afirmou o juiz Leonardo Damasceno. O empresário já havia sido processado por outros crimes.

Ele foi autuado por homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e por utilizar recurso que impossibilitou a defesa da vítima, e também por ameaça contra a motorista do caminhão de coleta.

Na sexta-feira (15/8), a Polícia Civil de Minas Gerais informou que a arma usada no crime pertence à esposa de Renê, a delegada Ana Paula Lamego Balbino. O armamento, no entanto, está registrado como de uso particular, não sendo funcional para o exercício da atividade policial. A confirmação sobre a propriedade foi obtida após perícia técnica.


Fonte: Metrópoles



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