Missionário, pai e de volta ao Japão: por onde anda Yudi Tamashiro, ex-apresentador mirim

Yudi Tamashiro, ex-apresentador e empresário — Foto: Reprodução / Instagram

O dia 20 de janeiro é importante para Yudi Tamashiro, ex-apresentador de programas infantis como o Bom Dia & Cia e hoje empresário. É a data em que embarca com a família para morar em definitivo no Japão (ele é casado com a cantora Camila Braga de Jesus, com quem tem um filho, Davi, nascido em maio). Vão acompanhá-los também sua mãe e irmã.

A família se muda para Yokohama, região vizinha da capital Tóquio. “Vou morar onde morei quando criança", resume Tamashiro, que nasceu em Santos, São Paulo, mas residiu no país asiático com os pais (também brasileiros) até os 5 anos. "Meu filho vai estudar na mesma escola que eu”, nota em conversa com a GQ Brasil. Objetivo alinhado ao sonho do patriarca, Nelson, morto vítima da covid-19 em 2021, que queria ver a família de volta ao país.

O plano chamou atenção online após série de publicações em que o ex-apresentador anunciou a venda de sua mansão e um apartamento em Alphaville, São Paulo, avaliados em R$ 6 milhões e R$ 1,3 milhão, respectivamente, segundo o jornal O Globo.

A mudança não é apenas projeto familiar. “Estou indo para o Japão como empresário, mas também como missionário. O que tenho feito é um trabalho constante de mostrar de forma prática o que é ser um cristão”, diz sobre a mudança e também sua presença nas redes sociais, onde se dedica ao seu projeto espiritual (são 5,4 milhões de seguidores no Instagram).

Por enquanto, a peça-chave deste objetivo é um documentário sobre a vida evangélica no Japão, um investimento de recursos próprios junto com um apoio da ONG cristã Yohanna Foundation, diz Tamashiro. O ex-apresentador deve começar a gravá-lo ainda em janeiro.

“É muito forte", comenta sobre a (talvez inevitável) comparação com o filme Silêncio (2016), drama sobre a vida brutal de fiéis católicos no Japão do século 17 dirigido por Martin Scorsese. "E na verdade até hoje acontece isso - não para morte, mas para a exclusão de pessoas da sociedade. Pouco se fala do evangelho no Japão. E pouco se fala das pessoas que entregaram tudo para viver o evangelho lá", conclui.

Uma vez em Yokohama, Tamashiro conta que irá trabalhar com um grupo de empresários. O ex-apresentador, que já fez publicidade para a Honda e foi sócio de uma empresa de criação de conteúdo para influenciadores, optou por não divulgar o nome de seu empregador no país, mas comenta que a posição será um recomeço da carreira.

“Estou deixando tudo para trás, todo meu ego, meu certificado de artista, de pessoa bem sucedida, para começar algo novo. Mas isso já me deixa feliz porque é uma baita de uma aventura, entende?”, diz. Ainda que deva realizar algumas viagens ao Brasil para gravar um reality culinário focado em preparos japoneses a partir de março, comenta estar pronto para deixar sua trajetória na TV no passado: “Não me vejo como artista daqui 4, 5 anos".

“O 'Yudi PlayStation' não tem como deixar de ser o 'Yudi PlayStation' se ele não fizer algo maior. Essa é a mais pura verdade”, conclui.

História com a fé

O lar em Santos onde Yudi Tamashiro passou boa parte de sua infância nos anos 1990 é exemplo da mistura que descreve grande parte do tecido religioso brasileiro. Em 2017, estudo apresentado no XI Congresso de Medicina e Espiritualidade (Mednesp) notava que 44% dos brasileiros se consideravam seguidores de duas ou mais religiões; outro levantamento, feito pelo instituto Brasilis e publicado ano passado, aponta que quase um terço dos brasileiros já mudou de religião.

No caso de Tamashiro, o pai (filho de imigrantes japoneses) era budista. Tânia, sua mãe, do candomblé, que o filho praticou por anos (tinha uma mãe de santo na Praia Grande). A relação pais e filho, conta, foi sempre saudável.

"Toda casa japonesa tem o butsudan, como se fosse um santuário para os antepassados. E aí todo mundo vai lá e acende o incenso. Fui criado dessa forma. Do lado da minha mãe era o candomblé, do lado de meu pai, era acender o incenso", resume.

Yudi Tamashiro em apresentação em 2008 — Foto: Cristian Janke / Wikimedia Commons

O contato definitivo com o mundo evangélico aconteceu no meio do ano de 2016, com o convite de um amigo que trabalhava como iluminador do SBT para conhecer uma unidade da igreja Bola de Neve em São Paulo. Hoje, Tamashiro é parte da Onda Dura, congregação pentecostal fundada em Joinville, Santa Catarina.

Era o arremate de algumas estranhas coincidências: na noite anterior, havia encontrado com três jovens vestindo terno na porta de uma balada onde se apresentava. Já sem contratos com a televisão após a demissão do SBT em 2012, ele tocava em casas noturnas e passava por problemas com álcool e dinheiro: "Cheguei ao ponto de não ter grana para comer um McDonald's, colocar gasolina, pedir um Uber. Estava só gastando e gastando.”

Na manhã seguinte, acordou com uma mensagem de sua ex-colega de Bom Dia & Cia., Priscilla Alcantara, que na época fazia carreira na música Gospel, convidando-o a conhecer sua igreja. "Priscilla, acredito em Deus, você acredita em Deus, estamos juntos e maravilha", respondeu. Quando recebeu o convite do amigo pela tarde, já estava quase convencido.

Cristão há 9 anos e batizado há 8, conta ver na religião paz e um potencial de mudança pessoal que pareciam fora do alcance após a demissão, e mesmo durante a carreira como astro jovem da TV. “Um dos pontos mais sufocantes da fama é você ser ponte para as vontades dos outros, sabe? Principalmente quando você começa criança. Porque não tem voz, não sabe dizer não e nem tem muito entendimento do que está acontecendo com a sua vida”, comenta.

"Trabalhava de segunda a segunda. E quando falava que eu estava cansado, era por para dormir um pouquinho e depois voltar a trabalhar novamente. Você não tem um basta, acabou, não quero mais fazer isso e pronto”, lamenta. “Eu consegui fazer isso".

Fonte: GQ


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