Espírito Santo tem lei que multa quem espalhar informações falsas sobre pandemia; especialistas esclarecem mitos e fatos sobre vacinas
Dados
da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que, atualmente, as vacinas
previnem cerca de 3 milhões de mortes todos os anos por enfermidades como
difteria, tétano, coqueluche, influenza e sarampo.
Nos últimos 200 anos, as imunizações salvaram vidas e erradicaram doenças
fatais. Mesmo assim, mitos, desinformações e o compartilhamento massivo de
notícias falsas têm deixado a população insegura e reticente com
a liberação de vacinas contra a Covid-19, podendo colocar em risco a
eficácia dos programas de vacinação.
No último domingo (17), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
autorizou o uso emergencial dos imunizantes CoronaVac e Oxford/AstraZeneca. A
vacinação começou no domingo mesmo em São Paulo e teve início nesta
segunda-feira (18) em outros estados, inclusive no Espírito Santo, de acordo
com informações do governador Renato Casagrande (PSB) em suas redes
sociais oficiais.
Fake News
A crescente expansão de “movimentos antivacina” e informações falsas
disseminadas nas redes sociais sobre o combate à Covid-19 são fatores que
preocupam médicos e autoridades políticas em relação à imunização da
coletividade e no êxito para conter o avanço da pandemia.
Com intuito de combater a divulgação dessas notícias falsas envolvendo doenças
que se alastraram e causam pandemias, foi regulamentada no Espírito Santo a Lei
11.135/2020. Tal legislação é oriunda do Projeto de Lei (PL) 195/2020, do
deputado Doutor Hércules (MDB), e prevê multa de até R$ 700 para quem,
dolosamente, ou seja, de modo consciente, espalhar por meio eletrônico ou
similar fake news acerca do tema.
“Questões políticas, desinformação e informações distorcidas, como brincadeiras
de mau gosto, incitam dúvidas e o temor da população em relação às vacinas.
Entretanto, elas são ferramentas seguras que estimulam as defesas do organismo
contra agentes infecciosos. Sem as vacinas ficamos suscetíveis a inúmeras
infecções”, ressaltou o autor da iniciativa.
Velocidade de aprovação
Um dos fatores de desconfiança em relação às vacinas que protegem contra o novo
coronavírus é a aprovação em tempo recorde: menos de um ano. Entretanto, o
infectologista Carlos Urbano assegura que esse tempo hábil não negligencia a
segurança das vacinas. Ele ainda ressalta que a existência de uma plataforma
inicial já pronta, contra o primeiro coronavírus que apareceu 20 anos atrás,
ajudou a acelerar o processo para que alguns imunizantes fossem desenvolvidos.
“Estamos enfrentando uma pandemia muito grave, não podemos esperar 10 a 15 anos
por uma vacina. Por isso, o processo de descoberta foi acelerado, mas sempre de
maneira segura. Sempre supervisionado por uma agência regulatória como a FDA
nos Estados Unidos, a EMA na Europa, e a Anvisa no Brasil”, explica Urbano.
Doutor Hércules, que é médico e preside a Comissão de Saúde da Assembleia
Legislativa, também defende a segurança das vacinas e ressalta os avanços
tecnológicos.
“O avanço da medicina, da tecnologia e da robótica, permitiu que diferentes
países descobrissem vacinas contra a Covid-19 em tempo recorde. Antigamente, as
imunizações demoravam para serem aprovadas por falta de recursos. Mas vale
ressaltar que elas são extremamente seguras e foram originadas através de
muitos estudos. Podemos ficar tranquilos quanto à eficácia e segurança das
vacinas. O perigo está em não se proteger”, avalia o parlamentar.
Queda nas vacinações
Doutor Hércules ainda observa com preocupação a tendência de redução no número
de vacinações desde o início da pandemia de Covid. Para ele, o declínio de
adultos e crianças que estão deixando de se vacinar já é um fator preocupante.
“O medo de sair de casa provocou um relaxamento nas pessoas que deixaram de
tomar vacinas essenciais. Vale lembrar que uma doença infecciosa pode ser agravada
por uma gripe simples e principalmente pela Covid-19”, comenta o parlamentar.
A infectologista pediátrica, professora e coordenadora do Programa de
Residência Médica em Pediatria da Universidade Vila Velha, Jacqueline Oliveira
Rueda, reforça a importância de seguir o Calendário Nacional de Vacinação.
“As doenças erradicadas ou controladas em nosso país podem reaparecer se a
cobertura vacinal cair. Mantendo uma alta cobertura vacinal foi possível
eliminar a poliomielite, rubéola, síndrome da rubéola congênita, tétano materno
e neonatal. Além disso, o sarampo foi controlado e houve redução drástica da
incidência de importantes causas de adoecimento e mortalidade, como a difteria,
as meningites bacterianas e a coqueluche”, esclarece Jacqueline Rueda.
Ação das vacinas
As vacinas protegem o organismo antes que haja contato com as doenças. Para
isso, são usadas as defesas naturais do corpo que criam resistência a infecções
específicas estimulando o sistema imunológico a criar anticorpos, da mesma
maneira de quando é exposto à doença.
As imunizações geralmente contêm formas mortas ou enfraquecidas de germes, como
vírus ou bactérias. Entretanto, elas não causam a doença e nem colocam as
pessoas em risco de complicações. “Pelo contrário, as vacinas nos previnem, em
primeiro lugar, de adoecer”, destaca o infectologista Carlos Urbano.
O médico também ressalta que os possíveis efeitos colaterais causados por
vacinas não são considerados complicações e que os resultados mais comuns estão
relacionados ao local de aplicação, como dor, inchaço e vermelhidão.
“Alguns efeitos podem causar mal-estar e febre, que são sintomas leves e passam
rapidamente. As vacinas protegem de doenças graves que causam sequelas. Os
benefícios das vacinas são muito maiores do que os efeitos colaterais que elas
podem causar”, explica Urbano.
Mitos e verdade
Os infectologistas Carlos Urbano e Jacqueline Oliveira Rueda esclarecem o que é
fato e o que é mito sobre as vacinas.
Deixar de vacinar crianças faz com que
doenças já extintas voltem a se manifestar?
Sim. As doenças erradicadas ou controladas em nosso país podem reaparecer se a
cobertura vacinal cair. O fato de não vacinar pode levar ao reaparecimento de
doenças já controladas em nossa região. Mantendo uma alta cobertura vacinal foi
possível eliminar a poliomielite, rubéola, síndrome da rubéola congênita,
tétano materno e neonatal.
A vacina contra o novo coronavírus é mais perigosa que a Covid-19?
De forma alguma. A Covid-19 é uma doença grave. A vacina causa sintomas
locais leves, enquanto a Covid-19 tem alta contagiosidade e morbidade, sem
considerar a letalidade.
A vacina contra a Covid-19 pode mudar
permanentemente o DNA?
As vacinas das empresas Pfizer e Moderna usam material genético, mas elas não
mudam o DNA. Elas utilizam tecnologia de DNA, colocando uma parte dos genes do
vírus em uma molécula que é injetada no corpo humano para gerar uma resposta
imunológica do organismo. As vacinas não têm potencial para alterar o código
genético de células humanas.
É possível garantir a segurança das
vacinas para Covid diante do tempo tão rápido de aprovação?
As vacinas foram feitas a partir de tecnologias já estudadas e/ou utilizadas. E
além dos testes de eficácia foram feitos testes de segurança. O comitê técnico
assessor do Programa Nacional de Imunização é composto por profissionais
competentes e responsáveis que avaliam questões relacionadas à segurança e
eficácia.
Vacinas podem causar autismo?
Vacinas não causam autismo. Essa hipótese foi levantada por um médico
inglês que foi processado e perdeu o direito de exercer a medicina porque ele
assumiu publicamente que havia mentido na pesquisa.
Pode ser administrada mais de uma vacina ao mesmo tempo?
Depende. Algumas podem, sim, ser aplicadas no mesmo dia e outras devem ter um
intervalo de 30 dias de administração. No momento da vacinação haverá
orientação sobre quais podem ser tomadas em conjunto ou não. O sistema
imunológico não fica sobrecarregado e a produção de anticorpos ocorre
normalmente.
É perigoso tomar a mesma vacina duas
vezes?
Não existe risco. Inclusive, pessoas que não lembram se já receberam alguma
vacina podem tomá-la novamente.
As vacinas garantem 100% de proteção?
A maioria das vacinas oferece uma alta taxa de proteção, em torno de 90-95%.
Algumas vacinas podem causar doenças
graves e sequelas?
De maneira geral, não. As vacinas protegem de doenças graves que causam
sequelas. Essas reações raríssimas vezes podem acontecer, mas em frequência
muito menor do que a doença que elas previnem, tendo seus benefícios muito
maiores que os riscos.
Vacinas podem causar efeitos
colaterais?
Sim, mas a grande maioria são efeitos leves. Dor local, edema, febre, um
pouco de dor de cabeça. Efeitos mais graves são muito incomuns. Os benefícios
das vacinas são muito maiores do que os efeitos colaterais que elas apresentam.
É melhor ser imunizado pela doença do
que pela vacina?
É muito melhor ser imunizado pela vacina. Uma das propostas básicas é impedir a
pessoa de adoecer ou, se adoecer, ter a doença muito mais leve. Vacinado você
se torna imune e não adoece.
Vacina contra gripe causa gripe?
Não! Não existe nenhuma chance, não há nada vivo na vacina para poder causar
uma gripe. A vacina contra gripe protege contra formas graves de gripe e reduz
a incidência de complicações, como pneumonia. Muitas pessoas confundem com
resfriado: doença causada por outros vírus e que tem sintomas leves.
Pessoas que têm alergias não podem tomar
as vacinas?
Algumas pessoas que têm alergia grave devem evitar alguns produtos. Por exemplo,
quem tem alergia grave à gema de ovo deve tomar cuidado quando for tomar a
vacina contra febre amarela. Alergias leves, alergias gerais tipo asma e rinite
alérgica não impedem ninguém de tomar vacina. Em caso de dúvida, é necessário
consultar um médico previamente.
Com Informações Assembleia Legislativa Espirito Santo