Espécie foi identificada em programa de agricultura sustentável da Bayer. Falta de abelhas coloca em risco três quartos da produção de alimentos global.
Uma nova
espécie de abelha foi descoberta no Brasil. Batizada de ceratina
(ceratinula) fioreseana, ela foi identificada na fazenda Nossa Senhora
Aparecida, a 150 km de Brasília, que participa de um programa de agricultura
sustentável promovido pela Bayer — as primeiras aparições da abelha
aconteceram em uma área de floresta recuperada. Classificada como solitária
(não vive em colônias), a espécie é caracterizada por ser uma polinizadora
importante em ecossistemas naturais.
O
artigo científico com o anúncio da descoberta foi publicado na Zookeys,
publicação internacional referência nas áreas de zoologia, taxonomia, filogenia
e biogeografia. O trabalho é assinado por Heber Luiz Pereira, pesquisador
responsável pelo monitoramento da diversidade de polinizadores na fazenda, e a
Favizia Freitas de Oliveira, pesquisadora taxonomista de abelhas do Instituto
de Biologia da Universidade Federal da Bahia (IBIO-UFBA).
Segundo
Oliveira, a nova abelha é distinguida pelo padrão de manchas faciais e cor
amarelo-mel das pernas. Os machos da espécie também possuem uma genitália
bastante diferenciada. “Nós coletamos alguns espécimes da nova espécie, fêmea e
macho. Além destas, identificamos mais 72 espécies de abelhas nativas
brasileiras durante uma avaliação para monitoramento de diversidade de
polinizadores, efetuada no entorno da lavoura de soja”, afirma a
pesquisadora.
A
fazenda Nossa Senhora Aparecida pertence à família Fiorese — o nome ceratina
fioreseana é uma homenagem aos proprietários. “É um orgulho imenso”, afirma
Henrique Fiorese, um dos administradores da fazenda. “No início do projeto da
Bayer, sabíamos muito pouco sobre os polinizadores e seu papel importante para
a agricultura. Porém fomos cada vez mais nos envolvendo e nos informando sobre
o tema e descobrindo um novo mundo bem no meio da nossa fazenda.” A propriedade
tem 2.700 hectares e produz soja, milho, feijão, trigo e sorgo.
Para
Fiorese, o projeto é importante para desmistificar alguns conceitos sobre
agricultura sustentável. “Queremos mostrar em nossa propriedade que é
possível desenvolver uma agricultura de larga escala, com o uso consciente de
agroquímicos e preservação do meio ambiente, ao mesmo tempo em que levamos
comida de qualidade para a mesa das pessoas”, destaca.
Mais
de 75% da produção de alimentos global depende de abelhas, de acordo com a
Bayer. “À medida em que a indústria investe em pesquisas que promovem diálogos
abertos entre os setores produtivos, ela está desempenhando um papel
fundamental para a agricultura”, afirma Cláudia Quaglierini, gerente de
inteligência tropical da companhia. A Nossa Senhora Aparecida é a primeira
fazenda brasileira a participar do programa Bayer Foward Farming, que promove
novas formas de produção sustentável.
Risco para a agricultura
O
sumiço de abelhas tem sido apontado como um dos maiores riscos para a
agricultura no mundo. Em 2017, a primeira abelha foi adicionada à lista de
espécies ameaçadas dos Estados Unidos: o zangão. Nas últimas duas décadas, o
macho sofreu uma redução de 87%.
O
cenário preocupa a indústria. Além da Bayer, outra grande empresa do setor
agrícola, a trader chinesa Cofco, também atua na proteção dos insetos. A
empresa passou a mapear apiários no entorno dos seus canaviais no Brasil. Já
foram identificados 78 apiários, que concentram mais de 5.000 colméias. O
programa teve início em 2016. O objetivo é usar tecnologias de monitoramento
para evitar que defensivos sejam aplicados nas áreas onde as abelhas se
encontram.
Especialistas
afirmam que as abelhas sofrem pela redução de campos floridos, pelo uso de
pesticidas e pela crise climática global. Uma pesquisa recente realizada
por cientistas dos Estados Unidos, Canadá e Suécia, publicada
na revista científica Royal Society, relatou que diversas áreas agrícolas estão
sendo prejudicadas pela falta de abelhas nas plantações. Entre os alimentos que
tiveram sua quantidade reduzida estão a maçã, as cerejas e os mirtilos. A
estimativa é de que três quartos das culturas alimentares do mundo podem ter
prejuízo.
Abelhas
selvagens, como mangangás, são exemplos de polinizadores que estão sendo
afastados das plantações. Rachel Winfree, ecologista da Universidade Rutgers,
nos Estados Unidos, disse em nota que, dentre as 131 colheitas analisadas, as
que continham mais abelhas tiveram uma produção significativamente maior. Os
pesquisadores ainda ressaltaram que as abelhas selvagens são polinizadores mais
eficazes do que abelhas comuns, embora ambas estejam em declínio.
Segundo
Winfree, a situação ainda não é de crise. A tendência, porém, é que não deve
demorar mais 10 ou 20 anos para o mundo entrar em uma crise de segurança
alimentar, e os cientistas aconselham os agricultores a entenderem a quantidade
ideal de polinização para cada plantação – dessa forma, não faltará para os
demais campos.
Com
Informações Exame