“Pra que aprender tantas equações matemáticas complexas se minha vontade é ser um enfermeiro?” E por que gastar meu cérebro com fórmulas químicas se minha ideia é ser advogado?”
Muitos estudantes já pensaram assim algum dia, principalmente aqueles que sabem que área profissional querem seguir. "Eu tenho certeza que quero atuar na saúde e não vou mudar", garante a adolescente Echylen Castro de 15 anos. A Cecília dos Santos, tem a mesma idade e é categórica: "Quero ser engenheira".
Essa aptidão dos jovens para uma área ou outra na fase do ensino médio, em que já estão mais voltados para a escolha da profissão, faz com que muitos se desinteressem por se aprofundar em matérias com que não se identificam.
Abandono
Alguns se sentem desmotivados com o atual sistema de ensino e também tem a necessidade de trabalhar. Não é à toa que 8,6% dos alunos abandonam o ensino médio e olha que esse é o dado oficial mais recente, de 2017-2018. Mas na pandemia tudo indica que a situação piorou.
Segundo uma pesquisa do C6Bank/ DataFolha, cerca de 10% dos alunos do ensino médio deixaram as aulas para trás. Há anos estudiosos se debruçam em forma de adequar o modelo de aprendizado do ensino médio para atrair mais os jovens do século XXI.
A mudança chegou
Guarde bem esse termo: Itinerários Formativos. Isso nada mais é que o caminho de formação específica que o aluno vai seguir ao longo dos três anos do Novo Ensino Médio, que passa a valer no ano letivo de 2022.
É nesse momento que entra o protagonismo do aluno, é ele quem vai decidir em que áreas quer aprofundar o aprendizado e ter um conhecimento mais prático também.
A ideia é justamente unir ensino básico a conhecimentos específicos que possam deixar o aluno mais preparado para o mercado de trabalho, como explica o o professor Leonardo Gama, do Colégio Salesiano de Vitória. Ele faz parte do grupo de estudo da instituição sobre o Novo Ensino Médio.
"A missão do novo ensino médio é fazer com que o aluno se insira no mercado de trabalho preparado para ser um profissional que consiga desenvolver múltiplas habilidades. Assim, ele pode escolher uma carreira, aprimorando habilidades especificas e ao final dessa etapa ser um cidadão mais completo com mais chance no mercado de trabalho".
O que muda a partir de 2022?
O professor Leonardo Gama afirma que as mudanças do Novo Ensino Médio incluem a alteração do currículo e flexibilização de parte dele para que o estudante escolha algumas disciplinas específicas. E acontece também o aumento de carga horária.
O educador ressalta ainda que esse currículo tem como estrutura base o Plano Nacional de Educação. Por meio da BNCC (Base Nacional Curricular Comum) as competências mais importantes e as habilidades essenciais serão ensinadas durante o ensino médio. E cabe ao estudante traçar qual será o seu itinerário formativo, ou seja, as habilidades que ele quer adquirir para a carreira futura.
Expectativa
O estudante do colégio Salesiano de Vitória, Rychard Zequini Figueiredo, de 14 anos, está empolgado com as mudanças do Novo Ensino Médio:
"Tenho muita expectativas positivas, como ter atividades mais interativas e ter um aprendizado melhor na área em que eu pretendo me aprofundar. Achei muito interessante e legal."
O pai do Rychard, o professor Evandro Figueiredo, também está com boas expectativas: “Uma vez que os alunos vão poder escolher as áreas de interesse, espero que as aulas sejam mais interativas, que tenham mais conhecimento prático. O aluno de fato vai protagonizar o seu aprendizado. Quero muito que meu filho abrace essa questão”, pondera.
Mitos e verdades sobre o novo ensino médio
1- A mudança vale para todos os alunos?
MITO: Só participam alunos que ingressarem no ensino médio em 2022. Quem já está cursando, segue o sistema tradicional.
2- As matérias básicas deixam de existir?
MITO: As disciplinas básicas continuam as mesmas em todas as escolas de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Só que a partir de agora o ensino vai ser feito de uma forma diferente, baseado no formato já utilizado no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), utilizando a divisão de linguagens e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; ciências humanas e sociais aplicadas.
3- A carga horária vai aumentar?
VERDADE: O aluno antes tinha 2.400 horas de aula e agora vai ter 3.000 horas de aula durante os três anos de ensino médio. 60% dedicados às disciplinas básicas e 40% às matérias específicas.
4- As matérias obrigatórias vão ser dadas nos três anos?
MITO: Entre as disciplinas básicas, somente Português e Matemática estarão nos três anos. O restante vai ser trabalhado de maneira diferente e vai haver revezamento ao longo do ensino médio.
5- Vou estudar algumas matéria com menor profundidade?
VERDADE: "As disciplinas vão continuar existindo mas na prática, esse conteúdo vai diminuir. Os alunos que escolherem determinadas áreas, vão ter um aprofundamento no tema que optarem", explica o professor Leonardo Gama.
6- Todas as escolas devem oferecer os mesmos itinerários formativos?
MITO: Lembrando que itinerário formativo são as disciplinas específicas e cada escola pode definir quais vai oferecer e de que forma. O que está definido é que que os itinerários seguem as seguintes áreas: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Formação Técnica e Profissional.
7- Posso escolher mais de um itinerário formativo?
VERDADE: O aluno precisa cumprir pelo menos 1.200 horas fora das disciplinas básicas e pode escolher Itinerários voltados à sua Formação Técnica e Profissional ou cursar Itinerários Integrados, que combinam diferentes opções, como duas ou mais Áreas do Conhecimento ou delas com a Formação Técnica e Profissional.
8- Todos os itinerários formativos tem formato de aula?
MITO: Os itinerários formativos podem ser oferecidos de formatos diversos, inclusive a ideia é de que não sejam em forma de aula tradicional, devem ser mais dinâmicos, como projetos, oficinas, núcleos de estudo, laboratórios, etc.
9- Tenho vaga garantida na área profissionalizante que eu escolher?
MITO: O número de vagas será limitado em cada oferta disponibilizada. Portanto, o estudante terá liberdade para pleitear vaga em outra instituição de ensino que ofereça um itinerário que mais lhe interesse.
10- O itinerário formativo só pode ser feito presencial?
MITO: A proposta do Novo Ensino Médio é de que até 20% da carga horária de ensino diurno possa ser EAD (Ensino à Distância). Mas é preciso lembrar o EAD é responsabilidade da escola. É ela quem determina as parcerias firmadas, faz a tutoria e o acompanhamento e garante que essas aulas sejam efetivas para os alunos.
11-Devo escolher meu itinerário formativo na matrícula?
VERDADE: A escolha deve ser feita na matrícula mas não impede que o aluno mude a decisão ao longo dos anos e escolha ouras opções. Na verdade, a oferta do itinerário formativo só passa a ser obrigatória em 2023 mas muitas escolas já começam a oferecer em 2022.
Como escolher
O Igor de Azevedo Barbosa, de 14 anos, já sabe a área que pretende seguir no itinerário formativo: "Eu quero estudar tecnologia e dessa forma, vou ter um direcionamento e poder focar mais no que eu quero para o futuro".
Já o Bruno Maia Selvatici, de 15 anos, está mais indeciso e com receio: "Não tenho ideia do que vou fazer, tenho medo de escolher errado e acabar afetando o meu histórico escolar.
Realmente, aos 14, 15 anos, não é tão fácil ter ideia da profissão ou da área que pretende seguir no futuro e por isso o Novo Ensino Médio tem uma disciplina obrigatória para ajudar os alunos, é chamada de "Projeto de Vida".
O aluno vai receber orientações de um profissional especializado (psicólogo ou mesmo professor) para que possa compreender melhor suas potencialidades, áreas de interesse e desenvolver o autoconhecimento.
Fonte: Folha Vitória
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