Hospital São Paulo demite centenas de funcionários e pronto-socorro é fechado para pacientes que não chegam de ambulância

Fachada do Hospital São Paulo, na Zona Sul de SP — Foto: Reprodução

Funcionários do Hospital São Paulo, na Zona Sul da capital paulista, relataram ao g1 que centenas de médicos e enfermeiros que trabalham no local foram demitidos nos últimos meses. O g1 esteve no HSP nesta quinta-feira (24) e foi informado que o pronto-socorro foi fechado e somente atendimentos de especialidade estão sendo realizados.

Os pacientes que procuram o local para atendimento clínico ou emergencial são encaminhados para a UPA Vila Mariana.

"Todos os hospitais do governo federal estão sofrendo com isso. Muita gente está sendo mandado embora porque está mudando a diretoria. Enfermeiras, médicos, todo dia um monte de gente é demitido aqui [no Hospital]. Parece que só na terça-feira (22) foram 150 funcionários, circula a história que é porque está mudando a diretoria", afirmou uma funcionária.

O Hospital São Paulo, hospital universitário da Universidade Federal de São Paulo, disse ao g1, em nota, que "as demissões fazem parte da reestruturação que a unidade realiza neste momento. Desde o início da pandemia, o Hospital São Paulo buscou contratar profissionais de diversas especialidades para enfrentar a fase mais aguda da crise. Neste momento, estamos readequando as escalas de profissionais" (leia nota completa abaixo).

Sobre o pronto-socorro, o hospital nega seu fechamento. "É preciso ficar atento que o Pronto Socorro do HSP não fechou. Ele passou desde agosto do ano passado a receber casos mais complexos, conforme determina o sistema nacional de saúde".

Na UPA Vila Mariana, para onde os pacientes são encaminhados, o tempo de espera para atendimento por volta das 14h desta quinta era de cerca de 4 horas. "Eu faço tratamento aqui, queria continuar passando no clínico aqui no Hospital São Paulo", disse um paciente.

Ainda de acordo com o hospital, a UPA Vila Mariana funciona 24 horas e "atende a demanda espontânea de todas as pessoas que procuram a Unidade, indistintamente de região". "Tem capacidade para cerca de 18 mil atendimentos por mês e oferece serviços de clínica médica, cirurgia geral, pediatria, ortopedia, entre outros. A unidade conta com 386 funcionários", disse a instituição em nota.

Bilhete entregue para pacientes que procuram por atendimento clínico. — Foto: Deslange Paiva/ g1 SP

No hospital, estão sendo atendidos somente quem procura por consultas no ginecologista, oftalmologista e otorrino, ainda assim, profissionais relataram que poucos médicos estão disponíveis para atender a demanda de público.

"Nem a gente que trabalha aqui está conseguindo atendimento, até os funcionários que precisam de tratamento estão sendo recomendados a procurar um outro lugar, eu mesma preciso realizar um tratamento e aqui não dá", disse o funcionário.

Os funcionários só não podem barrar pacientes encaminhados via Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (Cross) e os que chegam de ambulância.

Eles relatam também que faltam medicamentos e estão limitando a distribuição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). "Estão cancelando cirurgias e até exames básicos".

Em 17 de dezembro de 2021, o vice-governador do estado de São Paulo, Rodrigo Garcia, e o Secretário de Saúde do Estado, Jeancarlo Gorinchteyn, anunciaram o repasse de R$ 66,9 milhões ao Hospital São Paulo e ao Hospital de Ensino da Escola Paulista de Medicina (EPM) da Unifesp.

Recepção para atendimento no oftalmo do Hospital São Paulo — Foto: Deslange Paiva/ g1 SP

Demissões sem aviso

Segundo relatos, são cerca de 20 demissões por dia sem aviso. Os funcionários chegam para começar o dia de trabalho e encontram todos os logins de acessos do sistema do hospital bloqueados, a partir disso são chamados no RH e avisados sobre a demissão.

Ainda segundo relatos, férias e novas contratações começaram a ser canceladas com a mudança do superintendente do hospital no dia 1º de fevereiro.

Equipe de saúde mental

No dia 21 de fevereiro, um ex-funcionário chegou a publicar que a equipe inteira de saúde mental do hospital foi demitida, incluindo psiquiatras, psicólogos e terapeutas ocupacionais.

Após o relato, o professor aposentado Luiz Antônio Nogueira Martins, fundador do Departamento de Psiquiatria e Psicologia da Unifesp, emitiu uma nota pedindo a reversão das demissões para a administração do Hospital São Paulo.

"Surpreso, tomei conhecimento hoje da demissão de 13 profissionais de saúde mental (5 psiquiatras, 4 terapeutas ocupacionais e 4 psicólogos) que trabalhavam no Serviço de Interconsulta em Saúde Mental do HU-EPM/UNIFESP e no Núcleo de Assistência e Pesquisa em Residência Médica (NAPREME), dois serviços de saúde mental pioneiros no Brasil, criados pelo Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da EPM/UNIFESP".

"A demissão desses profissionais inviabiliza a continuidade dos serviços, resultando em uma grave perda tanto para a assistência prestada aos pacientes internados no HU como para a assistência em saúde mental para os residentes do complexo HU-EPM/UNIFESP ", disse em nota.

"Na qualidade de fundador de ambos os serviços, venho, vigorosamente, conclamar todos os gestores dos órgãos diretivos do complexo HU-EPM/UNIFESP no sentido de envidar esforços para reverter a demissão desses profissionais, sob pena de comprometer gravemente a assistência em saúde mental, tanto aos pacientes e seus familiares, como aos residentes de medicina e de residência multiprofissional", completou.
O que diz o hospital

"O Hospital São Paulo esclarece que as demissões fazem parte da reestruturação que a unidade realiza neste momento. Desde o início da pandemia, o Hospital São Paulo buscou contratar profissionais de diversas especialidades para enfrentar a fase mais aguda da crise. Neste momento, estamos readequando as escalas de profissionais.

O Hospital São Paulo reconhece o empenho de todos os colaboradores de seu quadro regular ou temporário, nesse esforço para salvar vidas. Todos irão receber os direitos trabalhistas. Mas a medida que a ocupação de leitos de Enfermaria e UTI vai decaindo e o orçamento sendo reformulado, é natural que a equipe seja readequada.

A nova administração do Hospital São Paulo tem o compromisso de honrar o compromisso de atender com excelência os pacientes de todo país que procuram os serviços de várias especialidades.

No ano de 2021, o Hospital São Paulo realizou mais de 673 mil consultas pelo SUS, 833 mil exames laboratoriais e 10 mil cirurgias. O compromisso de toda comunidade do Hospital São Paulo é continuar oferecendo serviços com qualidade e ética e colaborar na formação de médicos, enfermeiros e outros profissionais".

Fonte: G1



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