Com nome trocado para 'Gaylileu', publicitário processa rede de farmácias por homofobia


O publicitário Galileu Nogueira, 33, denunciou em suas redes sociais ter sido vítima de homofobia da empresa farmacêutica Droga Raia. "Eu fiquei em choque", disse em entrevista ao Estadão, como reagiu quando viu seu nome trocado no registro da empresa. Em qualquer compra que ele fizesse, seja online ou presencial, surgia "Gaylileu".

Adicionaram um "y" no nome de origem dele, uma espécie de alusão à palavra gay. Inicialmente, ele imaginou ser um erro de digitação. Somente após realizar mais de uma compra constatou que foi uma falha proposital com o intuito de zombar da sexualidade dele. "Ninguém merece ser tratado dessa forma. Tem que ouvir quem passou pela dor", desabafou.

A primeira vez em que Galileu percebeu o equívoco foi há mais de um ano, no dia 13 de janeiro de 2021. Dois meses depois, ele notou novamente a mudança do nome. Primeiro, ele descadastrou o número das promoções e avisos que recebia via SMS.

No entanto, ele contou que essa tática não foi suficiente. Segundo ele, ainda havia um incômodo ao realizar compras presencialmente e se deparar com o nome. Em uma das situações narradas pelo consumidor, um funcionário de uma das unidades da farmácia, perguntou: "seu nome é 'Gaylileu' mesmo?"

Foi em março do ano passado que o publicitário decidiu questionar a empresa. Ele abriu uma denúncia no Conselho de Ética da própria marca. Mas ficou dois meses sem qualquer resposta, conforme relatou. "Os contatos não aconteciam". Foi a partir dessa lacuna que resolveu abrir um processo judicial contra a farmácia.

Em nota enviada à reportagem, a Droga Raia disse que sempre esteve "aberta para o diálogo". Essa afirmação é refutada por Galileu. De acordo com o publicitário, a empresa não apresentou interesse em reforçar a diversidade dos funcionários e se comunicar com ele de forma mais humanizada. "Não houve nenhuma movimentação. O caso aqui é sobre descaso".

Na segunda-feira, 21, houve uma audiência de conciliação, mas as partes não entraram em acordo. A defesa de Galileu fez três pedidos: solicitou R$ 30 mil por danos morais, um treinamento sobre homofobia para os funcionários da rede - promovido por uma ONG LGBTQIA+ -, além de uma retratação. Na contraproposta da Droga Raia, os representantes ofereceram R$ 5 mil e informaram que a empresa já possuía uma capacitação interna sobre inclusão e diversidade para os colaboradores. O publicitário não aceitou a oferta.

Descontentado com o rumo que o processo tomou, ele optou por tornar o caso público. "Tive muita angústia durante esse ano, os advogados não respondiam". Exato uma semana após a audiência, na segunda-feira, 28, Galileu compartilhou em sua conta oficial no Instagram que sofreu homofobia velada e que se sentiu "no dever de compartilhar essa história para inspirar pessoas LGBTQIA+ a tomarem atitudes como também para gestores de marca ficarem atentos ao universo que a marca cria", escreveu no post.

Na publicação, o publicitário reiterou que acreditava na conciliação entre ele e a Droga Raia, mas afirmou que não ficou satisfeito com a conduta da rede farmacêutica. Para ele, faltou transparência. "Eu poderia até colaborar", disse em referência aos treinamentos que sugeriu para a empresa. "Vocês querem me ouvir? Eu tenho algo para falar sobre o assunto. Tinha que apurar e entender o que aconteceu lá dentro".

A origem da mudança do nome de Galileu não foi identificada pela farmácia, segundo o publicitário. Agora, ele pretende seguir com o debate sobre o preconceito acerca da mudança de nome sem consulta do consumidor. "É um tema que passa batido todos os dias. Pessoas com nome social podem estar sofrendo agora". Por atuar em grandes empresas como estrategista de branding, responsável por elaborar planos e diretrizes para a construção de uma marca, ele considera que esse tipo de situação é "ruim para os negócios e para as pessoas".

O que diz a DROGA RAIA

"A Droga Raia repudia veementemente a homofobia. Reconhecemos e lamentamos o transtorno que o Sr. Galileu sofreu. Pedimos desculpas pelo o que aconteceu. Enfatizamos que, assim que ficamos sabendo da troca do nome, um ano atrás, corrigimos o cadastro imediatamente e informamos o Sr. Galileu que o nome foi corrigido e revisamos os procedimentos internos. Durante estes doze meses sempre estivemos abertos para o diálogo. Tentamos chegar a um acordo em relação à indenização solicitada, mas não obtivemos êxito e continuamos abertos ao diálogo. A Droga Raia é integrante do Fórum de Empresas e Diretos LGBTI+ e fazemos questão de divulgar internamente para os nossos 50 mil funcionários que a empresa respeita a comunidade LGBTI+, assim como divulgamos o compromisso público de ter um ambiente livre de discriminação presenciada ou vivida nas nossas farmácias, escritório e centros de distribuição, alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis da ONU (ODS) contra a discriminação de Pessoas com Deficiência, LGBTI+, negros, sêniores 60+ e mulheres."

Fonte: Estadão


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