A vida de um bipolar: o estigma, o diagnóstico e a importância do apoio

(crédito: kleber sales)

Alvo de estigmas e desinformações, o transtorno bipolar é uma doença sem cura, mas para a qual há tratamento. Apesar dos preconceitos e julgamentos pelos quais os pacientes passam diariamente, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que, em 2019, cerca de 140 milhões de pessoas tinham a patologia, o que significa quase 2% da população do planeta.

Inicialmente, quando a doença foi teorizada, o nome dado foi psicose maníaco-depressiva, devido à sua característica, que alterna picos de euforia (a mania) e momentos depressivos. No entanto, é importante salientar que a mudança não é tão simples e não ocorre com as fases uma após a outra. Atualmente, a nomenclatura mais adequada é "transtorno bipolar", pois implica em menos estigmas para os pacientes.

A boa notícia é que, com o acompanhamento adequado, é possível manter boa qualidade de vida, carreira promissora e relacionamentos estáveis, como mostram Tiago Belotti, Viviane Vaz, Renata Galdencio e Mayra Galdencio. Diagnosticados com a doença, alguns tardiamente, eles contam as dificuldades e as conquistas galgadas todos os dias.

Descoberta tardia

O caminho até o diagnóstico passou por erros e crises intermináveis. Tiago Belotti, 42 anos, ao longo de anos, teve oscilações de humor, temperamento forte, entre outros sintomas. Segundo ele, médicos sugeriram quadros de hiperatividade, transtorno de atenção e até depressão. Mas, em 2005, aos 25 anos, o resultado que tanto buscava chegou. Assim que descobriu o motivo que o impedia de ter uma rotina saudável e funcional, confessa que ficou assustado, mas aliviado por, finalmente, entender o que tinha de errado dentro de si. “Meu pai era bipolar, não sei porque nunca desconfiei do diagnóstico. Comecei a ler tudo que encontrei sobre o assunto, mas o tratamento nunca foi fácil”, lembra.

Tiago Belotti, portador do transtorno bipolar e dono do canal "Meus 2 Centavos", no YouTube.(foto: Arquivo Pessoal)

Durante o percurso, falhas, tentativas vãs e remédios com efeitos colaterais desagradáveis. O crítico de cinema relata que passou por momentos de indisciplina em relação à prática diária de usar os medicamentos. Para ele, o tratamento é delicado, e o bipolar precisa estar atento aos extremos proporcionados pela doença. “Se exagerar na dose do antidepressivo, pode desencadear uma crise maníaca. Se exagerar no estabilizador de humor, cai para a depressão. Alguns remédios engordam, outros afetam a libido, outros geram fortes crises de ansiedade. Não foi uma combinação fácil de encontrar”, admite Belotti.

Os principais impactos sentidos por ele no decorrer do processo foram as fortes crises de ansiedade, ocasionadas pelas vezes em que precisou alterar a medicação. Belotti destaca que os períodos ansiosos eram tão difíceis e assustadores que o paralisavam por completo e o frustrava na tentativa de levar uma vida funcional. “Felizmente, não foram muitos episódios, lembro de três que foram realmente graves.
Mesmo com a medicação controlada, as oscilações continuam acontecendo, os altos e baixos são constantes, e você acaba se forçando a fingir ser uma pessoa ‘normal’ para poder viver em sociedade.”

Hoje, ao avaliar como sua saúde mental se encontra, ele afirma que, dentro do possível, consegue viver e levar as coisas da melhor maneira possível. No entanto, as oscilações de humor são pertinentes e frequentes.

De acordo com Belotti, há dias em que acorda de mau humor, o que o prejudica na semana e causa disfuncionalidade no cotidiano. O obstáculo está em manter o equilíbrio entre os momentos de alta produtividade e as crises de depressão. O crítico de cinema celebra o fato de trabalhar remotamente, já que, para ele, jamais conseguiria ter um emprego “normal”.

Apesar de ser uma pessoa introvertida, com dificuldades em falar sobre seus sentimentos, principalmente nos períodos de crise, ele alerta para a importância de estar rodeado de familiares, amigos e uma rede de apoio que ajude a enfrentar os ciclos e as fases difíceis do transtorno. Para ele, a principal responsável por guiá-lo a dias melhores é a namorada.

Belotti reforça a necessidade de realizar acompanhamento com profissional especializado, seja psicólogo, seja psiquiatra, e usar os medicamentos necessários para levar uma vida estável e saudável.

Fonte: Correio Braziliense


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