Incêndio em Memorial Quilombola do ES: polícia investiga se houve intolerância religiosa

Imagens destruídas em incêndio de memorial em comunidade quilombola no Norte do ES — Foto: Reprodução/TV Gazeta

As investigações da Polícia Civil sobre o incêndio que destruiu parte do Ponto de Memória Jongo de Santa Barbára, localizado na comunidade quilombola Linharinho, em Conceição da Barra, no Norte do Espírito Santo, na última terça-feira (9), continuam em andamento e uma das linhas de investigação é de que o incêndio pode ter sido causado por intolerância religiosa.

No incêndio, as imagens religiosas de Xangô e Santa Barbára, padroeira da comunidade, foram destruídas e parte do local ficou danificado. O memorial precisou ser interditado devido ao risco de desabamento do teto.

Peritos da Polícia Civil estiveram na comunidade coletando informações nesta quinta-feira (11) e algumas pessoas foram intimadas para prestar depoimento. À reportagem, a Polícia Civil disse uma das linhas de investigação é a de intolerância religiosa porque nada foi levado do local e o ponto alvo do incêndio foi o altar.

O memorial é considerado um espaço cultural que reúne a comunidade do Linharinho e já foi premiado com recursos do Fundo de Cultura do Espírito Santo (Funcultura) para manutenção e difusão de suas atividades.

A cidade tem outras 10 comunidades quilombolas e outros dois pontos de memória. O secretário de Cultura do município, Adilson Poeta acompanha as investigações e também acredita que se trata de um incêndio criminoso.

"A gente sabe que a intolerância existe e pode ser um caminho para tal situação", disse o secretário.
A subsecretária estadual de Cultura, Carol Ruas, esteve no local nesta quinta-feira e reforçou o apoio do estado na reconstrução do espaço.

"Para a sociedade de maneira geral, a gente tem um prejuízo simbólico, um ataque a um ativo cultural que contém a memória da comunidade e preserva as tradições, algo que é o patrimônio da cultura capixaba", disse a subsecretária.

O ponto de jongo é considerado importante para a manutenção da cultura africana e também é usado como ponto de encontro religioso. Uma das frequentadoras, a professora Simone Batista, também esteve no local depois de ver fotos do incêndio.

"Vi as fotos e é inacreditável. É muito triste, mas a gente vai reconstruir", disse a professora.

As imagens queimadas e quebradas foram guardadas em uma bacia.

"Eu nunca esperava que a gente dentro de uma comunidade poderia acontecer. Isso pra nós é muito triste", disse Gessi Cassiano, mestra de cultura de Santa Bárbara.

Mestra Gessi Cassiano — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Apesar da destruição causada pelo incêndio, a mestra Gessi Cassiano disse que não vai deixar de preservar as tradições da comunidade.

"Eu não vou parar. Por tudo que eu já passei e ainda passo, não vou parar. Não sei o que eu sinto. É uma falta de respeito com o nosso povo", falou Gessi no dia do incêndio.

A Delegacia de Conceição da Barra continua com as investigações sobre o caso e, até o momento, nenhum suspeito foi preso.

Fonte: G1


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