'Trissexual', Roberta Miranda lembra namoro com travesti aos 16: 'Primeira e única paixão'

Roberta Miranda no especial 10 anos de Feminejo, em 2021 — Foto: Manuela Scarpa @agenciabrazilnews/Divulgação

Na trilha sonora do remake de "Pantanal", interpretando "Chalana", clássico de 1943 de Mario Zan e Arlindo Pinto, Roberta Miranda une tradição e novas tecnologias para manter o título de Rainha do Sertanejo, como foi consagrada em seus 36 anos de carreira. Ativa nas redes sociais, onde interage com seu público e lança suas músicas (a mais recente, "Amor amigo", saiu por seus perfis no Instagram, Twitter e TikTok), a cantora preparou o terreno para a geração do "feminejo", num momento em que a música regional era, bem mais que hoje, um território masculino.

Os caminhos abertos pela artista não se restringem ao âmbito profissional. Aos 65 anos, ela fala publicamente das experiências sexuais do passado, como o namoro com uma travesti aos 16 anos, paixão que não viveu na época pela repressão da família, e o fato de se dizer "trissexual", sem deixar que a rotulem: "Ninguém pode julgar ninguém. E se tentarem fazer comigo, digo: 'A vida é minha, o corpo é meu, não estou pedindo o seu emprestado. Você não paga minhas contas e nem pisou onde eu pisei para saber de mim'".

Como está vendo o sucesso do sertanejo raiz com 'Pantanal'?

É fruto do trabalho de várias gerações. Os primeiros passos com Cascatinha e Inhana, Tonico e Tinoco, Pena Branca e Xavantinho, Inezita Barroso. Depois, com a nossa geração: eu, Chitãozinho & Xororó, Zezé Di Camargo & Luciano; e hoje temos o feminejo. Muitas dessas portas eu consegui abrir. Música sertaneja não entrava no Rio, não entrava no Norte, no Nordeste. E hoje vemos esse sucesso estrondoso.

E como as redes sociais entram na divulgação hoje, são essenciais para os lançamentos de música, para os shows?

Tenho 36 anos de carreira, mas tive que me adequar, me renovar. Antes, o artista precisava ter o respaldo de uma gravadora, investir muito para gravar um disco ou CD, ou lançar seu clipe. Hoje é mais fácil para quem está começando conseguir viralizar e ter sucesso, ainda que seja momentâneo. As redes sociais me deram a oportunidade de mostrar quem eu sou, para além do meu trabalho. O que penso, o meu lado bem-humorado, e isso ajudou a renovar meu público. Dos meus seguidores, 52% têm entre 16 e 34 anos.

Em relação à vida pessoal, você passou a se abrir mais? Muita gente comentou suas declarações relembrando um namoro de adolescência, com a travesti chamada Luz del Fuego. Ela se inspirava famosa dançarina e naturista?

Isso, na Luz del Fuego original. Eu era muito nova, tinha uns 16 anos e ela tinha uns 20, 21. Durou uns quatro meses, mas a gente foi apaixonada mesmo. Naquele tempo se falava travesti, não sei se há outra nomenclatura mais correta hoje. Foi o primeiro contato que tive com alguém com uma sexualidade entre o masculino e o feminino. Depois até criei uma brincadeira, dizendo que "quem come de tudo, não passa fome" (risos).

Foi sua primeira grande paixão?

Acho que foi minha primeira e única paixão. Perdi o contato, mas muitos anos depois a vi, já sem estar trabalhando como transformista, e deu uma balançada. Mas não pude viver essa paixão por conta da pressão de casa, minha família é de nordestinos de valores tradicionais, castradora. Minha mãe não podia saber. Ela não entendia, perguntava "Por que esta mulher está atrás de você"? Minha mãe achava que ela era mulher.

E como é poder falar hoje, mais abertamente?

Nunca gostei de falar muito da minha vida pessoal , acho que ela pertence só a mim, e sempre fui cobrada de forma exacerbada. Ninguém pode julgar ninguém. E se tentarem fazer comigo, digo: "A vida é minha, o corpo é meu, não estou pedindo o seu emprestado. Você não paga minhas contas e nem pisou onde eu pisei para saber de mim". Não é que agora esteja vivendo a minha sexualidade de forma mais plena, sempre vivi isso. Mas sempre fui reservada, por ser de uma família mais rígida, e respeitei muito isso. E, como meu analista diz, algumas fantasias têm que ficar na fantasia.

Você faz análise há muito tempo?

Faço há 26 anos, se não ninguém iria me aguentar (risos). Sem a análise, como iria segurar 36 anos de carreira? Vindo do nada, mal tendo comida em casa, para conhecer o sucesso, os tapinhas nas costas, conquistando coisas. De repente, você está vivendo loucuras, com "amigos" que caem de para-quedas, gente que você nunca viu. Como passar por tudo isso nesses 36 anos sem a análise?

Fonte: O Globo


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