Dermatite do traje de banho: "surto" após visitar praias

Nos últimos dias, crianças vêm apresentando manchas vermelhas e coceira na pele, logo depois de passarem alguns dias nas praias do litoral de São Paulo e do Rio de Janeiro. Segundo especialistas ouvidos pela CRESCER, trata-se de um "surto" de dermatite, causado por larvas de águas-vivas. Veja como lidar com o quadro e como proteger seu filho

Assim como muitas famílias, a administradora Viviane Bortolini, 37, decidiu passar o último feriado (15) na praia com o filho. Eles viajaram para o Guarujá, no litoral sul de São Paulo, e aproveitaram vários dias brincando na areia, mergulhando no mar... Até que, em uma dessas oportunidades, o filho dela, Luca, 7, começou a reclamar de coceira na pele.

"Ele estava com a camiseta de proteção e, assim que tiramos, vimos que ele já estava com vários pontos vermelhos no corpo. Como ele é superalérgico, achamos que era alguma alga ou bichinho que picou. Mas ele estava bem e logo voltou para a água", disse.

Depois de visitar praias do litoral de SP, famílias relataram casos de dermatite do traje de banho em crianças — Foto: Reprodução/Instagram e Unsplash

Depois do dia todo de brincadeira, a família retornou para o apartamento em que estavam hospedados. Na hora do banho, Viviane percebeu que as manchinhas vermelhas e a coceira haviam aumentado. Os vergões apareceram no peito e na barriga, mas não impediram que Luca continuasse aproveitando os mergulhos no mar nos dias seguintes. "Na praia, outras crianças também estavam do mesmo jeito. Acho que vi, além do meu filho, umas quatro crianças reclamando da mesma coceira e com vergões pelo corpo", lembrou.

O relato de Viviane realmente não é isolado. Nos últimos dias, pediatras também têm afirmado que vários pacientes estão chegando ao consultório ou ao pronto-socorro com as mesmas queixas de coceira e manchas vermelhas na pele, após voltarem de praias do litoral de São Paulo.

"Eu estava de plantão em um hospital de São Paulo e atendi um menino que veio de Santos com uma lesão bem importante na pele. Não parecia picada de inseto e também não definia aqueles quadros alérgicos clássicos. Aí fui fazer uma pesquisa na literatura e dividi o caso com outros colegas do hospital. Quando eles viram a lesão, quase todos disseram que também atenderam casos parecidos naquele dia", diz a pediatra Milena de Paulis, especialista em Emergências Pediátricas e membro do Departamento de Emergências da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

"Surto" de dermatite no litoral

Segundo os especialistas consultados pela CRESCER, a coceira e as manchas na pele que as crianças vêm apresentando depois de voltar da praia são causadas por minúsculas larvas de água-viva, quase que imperceptíveis a olho nu. Elas são trazidas por correntes marítimas, ficam na água da praia e, quando entram em contato com o corpo, ficam "presas" nas dobras da pele, no biquíni, na sunga, no maiô ou na camiseta de proteção (como foi o caso do pequeno Luca, do começo da reportagem).

"O tecido causa um atrito com a pele. Esse atrito faz com que essas larvas liberem substâncias tóxicas, como uma forma de proteção, para se defender. Esse é o motivo pelo qual a reação alérgica acontece principalmente em áreas de atrito, como a axila ou onde ficam as roupas de banho", explica Milena de Paulis.

Causada pela larva de uma água-viva, a dermatite do traje de banho causa coceira e manchas avermelhadas na pele — Foto: Reprodução/Instagram @paulotelles

Por isso mesmo, esse quadro clínico é chamado de prurido do traje de banho ou piolho-do-mar. Ele nada mais é do que um tipo de dermatite causado após o contato com larvas da cifomedusa Linuche unguiculata. Os primeiros casos foram relatados em 1939, por médicos da Flórida (EUA). No Brasil, os primeiros relatos são de 2001, de pacientes que visitaram praias de Ubatuba, no litoral de São Paulo — mesma região em que, agora, está sendo registrado o "surto" de novo. "Provavelmente, está acontecendo uma mudança de correntes marítimas e, por isso, tantos novos casos aparecendo", completa a especialista.

De acordo com Carolina Contin, dermatologista pediátrica do Hospital Sabará (SP), não é possível dizer por quanto tempo esse "surto" continuará. "Como as larvas da água viva vêm com as correntes marítimas, normalmente, é uma coisa bem transitória. Agora, está acontecendo no litoral de São Paulo, mas não é uma coisa que sempre vai ter nessa região. É um fenômeno que pode acontecer de tempos em tempos, por isso falamos em 'surto' mesmo", explica.

CRESCER procurou a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo para saber sobre o aumento de relatos de dermatite após visitas a praias do litoral, nas últimas semanas. "Neste ano, até o mês de setembro, nos Departamentos Regionais de Saúde (DRSs) que abrangem o litoral do Estado de São Paulo, foram registradas 25 internações por dermatite de todos os tipos. Nos atendimentos ambulatoriais do Sistema Único de Saúde (SUS), até setembro deste ano, a rede registrou 611 atendimentos", disse a pasta, em nota. Não foram informados dados específicos sobre casos de dermatite do traje de banho.

Sintomas do prurido do traje de banho

O prurido do traje de banho tem sinais bem característicos. "A criança fica com a pele avermelhada e coçando bastante. Pode ser que tenha febre, em alguns casos. Mas é importante lembrar que as lesões são diferentes daquelas causadas por picadas de insetos ou por calor, por exemplo, porque ficam concentradas justamente na área do maiô ou nas dobras. Por isso, quanto maior o biquini, maior o desconforto", afirma o pediatra Paulo Telles (SP).

As manchas vermelhas e a sensação de coceira costumam aparecer, geralmente, em até 24 horas depois do banho de mar. Na maioria das vezes, os sintomas ficam restritos à pele e não precisam ser motivos de preocupação. Apenas em casos muito raros, a criança também pode apresentar náuseas, diarreia, dor de cabeça e calafrios.

A dermatologista Carolina Contin diz que pode acontecer com qualquer pessoa, mas as crianças acabam sendo alvo "mais fáceis" porque ficam mais tempo na água e têm mais exposição à larva da água-viva. "Coça muito e os pequenos acabam ficando irritados por causa disso. Com as crianças pequenas, pode ser que apresentem outros sintomas, como dor de cabeça e febre. É desconfortável, mas não é nada grave ou que os pais precisem ficar alarmados", diz.

Aconteceu com o meu filho... e agora?

Antes de tudo, fique tranquilo! Os sintomas do prurido do traje de banho podem até ser bastante incômodos, mas costumam amenizar e ir embora com o passar dos dias. O esperado é que, dentro de uma a duas semanas, tudo volte ao normal.

O melhor a se fazer é procurar o pediatra, assim que possível. Ele saberá orientar sobre como agir e indicar o tratamento mais adequado. Para isso, normalmente são usados antialérgicos e recomendadas medidas para aliviar a coceira, como o uso de hidratantes.

Se estiver na praia e perceber que seu filho está com manchinhas pelo corpo e reclamando de coceira, tire a roupa de banho e lave bem o corpo e o biquíni ou a sunga com água corrente. Mas não seque a criança com toalha assim que sair da água do mar — isso pode gerar ainda mais atrito e ativar os "ferrões" das larvas. "O importante é tentar remover as larvas da pele. A água fria pode fazer com que elas liberem ainda mais toxinas e piorem a situação. O uso de água morna, não muito quente, é mais recomendado", explica Paulo Telles.

Como as larvas da Linuche unguiculata são muito pequenas (menores que um grão de pimenta moída), é praticamente impossível vê-las nadando. O jeito mais seguro de evitar a dermatite do traje de banho é mesmo ficando fora da água do mar. Mas quem é pai ou mãe sabe que, estando com os pequenos na praia, essa é uma missão bem difícil. Então, não é preciso evitar que as crianças entrem na água e nem controlar o tempo que elas passam nadando, porém é importante ficar atento a qualquer queixa ou sinal diferente na pele das crianças. E, se for o caso, consultar o pediatra o mais rápido possível.
Fonte: Crescer

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