Cientistas se preocupam com ética da vida eterna e acúmulo infinito de riquezas

A expectativa de vida humana tem levado os ricos a acumularem poder econômico e político por cada vez mais tempo. O que acontecerá se atingirmos a imortalidade?

Um dos grandes benefícios trazidos pela ciência é a melhoria trazida à medicina, e, por consequência, à saúde dos seres humanos. Ao longo dos séculos, nossa expectativa de vida só aumentou, com maior longevidade, mas também uma melhor qualidade de vida enquanto estamos vivos. Ainda temos, no entanto, um prazo de validade — que está na mira, principalmente, dos bilionários do mundo.

O problema é que viver para sempre é muito diferente de viver mais, e traz consigo inúmeros problemas sociais e principalmente financeiros. Num cenário de vida eterna, os indivíduos mais abastados do planeta seguiriam enchendo seus bolsos e acabariam por acumular não só as riquezas globais, mas também o poder garantido por elas. Não à toa, diversos bilionários estão desembolsando grandes quantias em pesquisas na área.

Foto: Pictures Of Money/Flickr / Canaltech

A ética da vida eterna

É claro que a solução para a vida eterna não deve chegar no futuro próximo, mas os potenciais problemas trazidos por ela já são teorizados, como a questão de acumular dinheiro e poder para sempre. Um dos cientistas preocupados com isso é o bioético Christopher Wareham, da Universidade de Utrecht, que estuda especificamente a ética do envelhecimento.

Segundo Wareham, um prolongamento tão grande da vida tem o potencial de aumentar expressivamente as desigualdades que enfrentamos atualmente. Já podemos ver, nos dias de hoje, que quanto mais longa a vida, mais poder aquisitivo se acumula, e, com isso, mais influência política. Mudanças no sistema dependem do tempo: líderes antigos caem e sistemas de crença morrem, trazendo novas pessoas com ideias novas. Num mundo sem mortes, ditadores e autocratas — e seus patrocinadores — continuariam no poder indefinidamente.

Ao olhar para a história humana, vemos que a divisão do poder político e econômico raramente é algo que passa pela cabeça dos poderosos, especialmente quando falamos em monarquias absolutistas. A isso, se alia a questão do monopólio da tecnologia, já que não é difícil imaginar que o detentor da eventual "patente da imortalidade" não deixaria que ela ficasse disponível para qualquer um.

Promessas e seus problemas

Algumas empresas trabalhando com tais tecnologias já estão com esse problema na mira, caso você esteja preocupado. A Hevolution Foundation, por exemplo, que trabalha com longevidade, não tem fins lucrativos e já declarou apenas financiar produtos que podem ser democratizados. A Altos Labs, fundada pelo bilionário Jeff Bezos, tem programas de rejuvenescimento celular com o objetivo de reverter doenças e ferimentos, e também relatou se comprometer com ajudar o maior número possível de pessoas.

É claro que, até o momento, não vimos tantos avanços rumo à imortalidade ou sequer em um aumento de, digamos, 30 anos na expectativa de vida de todos os humanos, então quaisquer promessas feitas agora podem não suportar o teste do tempo. É possível que um avanço enorme acabe se tornando uma mina de ouro tão grande que o dinheiro e poder trazidos por ele, tornando fácil quebrar uma promessa. Essa preocupação, no entanto, é para o futuro — um que provavelmente não estaremos aqui para ver.

Fonte: Terra

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