Nome do remédio aplicado em bebê que morreu após injeção foi riscado do prontuário, afirma mãe

Bebê de um ano morreu após ser medicada em UPA no litoral de SP — Foto: Reprodução


A mãe da bebê de um ano que morreu horas depois de ter dado entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Samambaia, em Praia Grande, no litoral de São Paulo, afirma que o médico que mandou aplicar uma injeção na veia da menina rasurou o prontuário, para, segundo ela, esconder o nome da medicação aplicada. A prefeitura informou ao g1, neste domingo (26) que está acompanhando o caso e se pronunciará após as investigações.

Laís Isabela da Silva morreu na madrugada do dia 4 de março. Ela foi levada à unidade de saúde com febre e enjoo. A mãe da menina, Raphaela de Carvalho, de 22 anos, contou que a filha recebeu medicação na veia e, passado um tempo, sofreu cinco paradas cardiorrespiratórias.

Raphaela contou que, após a morte ter sido confirmada, o corpo da bebê foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML), sendo liberado para os familiares na tarde de 6 de março. “O corpo da minha filha foi liberado por volta das 17h, depois de milhares de exames. Mas eu ainda estou sem saber qual foi o remédio que aquele desgraçado [médico] colocou na veia da minha filha".

Ainda segundo a mãe, o resultado dos exames devem ser emitidos depois de 30 ou 90 dias da data da morte. “Meu mundo, meu chão, minha vida, tudo acabou. Estou sem rumo. Eu nunca imaginei viver sem minha filha, muito menos enterrar a minha filha. Horas antes ela estava ótima. Eu estou literalmente destruída e acabada. Minha vida acabou", desabafou.

Prontuário 'burlado'

Raphaela afirmou ao g1 que recebeu uma cópia do prontuário médico da filha na última terça-feira (21), e percebeu que há uma rasura onde estaria descrito o nome do remédio aplicado na veia de Laís.

“Peguei o prontuário da minha filha e o médico burlou a medicação que ele deu para ela. Estou vivendo um pesadelo. Achei que iria me sentir mais aliviada depois que visse o prontuário, mas estou vivendo um inferno. Eu estava ansiosa para ver o que ele deu, mas não dá para ver nada porque ele rabiscou. Eu não desejo essa dor nem para o meu pior inimigo. Está muito difícil”, desabafou Raphaela.

A reportagem questionou a administração municipal, que informou que a Secretaria de Saúde Pública (Sesap) de Praia Grande está acompanhando o processo e se pronunciará ao final da sindicância [apuração administrativa].

“O Complexo de Saúde Irmã Dulce, do qual a UPA Samambaia faz parte, reforçou que está em andamento uma sindicância interna para averiguar todos os fatos sobre a situação em questão e aguarda o laudo do IML para a conclusão do caso”, acrescentou em nota.

Médico afastado

Conforme publicado pelo g1 na última semana, o médico que mandou aplicar a injeção na veia de Laís foi afastado. O profissional deve permanecer fora das atividades até o término das investigações sobre o caso. Em nota, o Complexo de Saúde Irmã Dulce confirmou o afastamento.

Relembre o caso

Raphaela contou à reportagem que, no dia 3 de março, a filha acordou vomitando e com febre. "Mediquei em casa com dipirona e dramin, e ela ficou sonolenta por conta do remédio contra enjoo". Ao notar Laís sonolenta, Raphaela decidiu levá-la à UPA Samambaia, por volta das 10h.

Na unidade, de acordo com a ajudante geral, o pediatra examinou a bebê e a diagnosticou com virose. “À noite, ela [Laís] estava ainda mais sonolenta, chorando, reclamando e mamando. Voltei na UPA umas 23h30. Outro pediatra disse que era normal, e que iria passar um remédio para ela dar uma acordada [não sabe qual foi a medicação] e um soro”, disse.

Raphaela contou que, após a filha ter sido medicada, a boca dela ficou seca, o rosto pálido e a menina "não queria mais se mexer, ficou mole". Ela afirmou ter ido à enfermaria para mostrar aos profissionais como a filha havia reagido à medicação.

“A enfermeira olhou e disse que realmente a minha filha não estava bem. Eu comecei a chorar e fiquei apavorada. A enfermeira chamou o médico, ele chegou e disse: corre para a emergência e já intuba".

De acordo a mãe, após três horas sem notícias, já na madrugada do dia 4, o médico informou que o estado de saúde da menina era "muito grave". “Ela teve três paradas cardíacas e ele [o médico] veio querendo jogar a culpa em mim, perguntando se a minha filha tinha caído ou se alguém tinha chacoalhado ela com força. Eu respondi que não, que ela estava ótima, que só estava vomitando”.

Segundo Raphaela, o médico argumentou que não estava conseguindo confirmar o motivo das paradas cardíacas. Na sequência, após realizar exame de raios X, ele teria retornado com a informação de que metade do pulmão da paciente não estava funcionando. “Ele disse que poderia ser uma pneumonia mal curada ou tuberculose. Minha filha nunca nem tossiu e não ficou gripada”.

Após informar a mãe sobre o estado de saúde da bebê, o médico autorizou a entrada de Raphaela, para que ela ficasse com a filha, que estava intubada. “Ver minha filha naquele estado foi uma das piores cenas da minha vida”.

Raphaela passou alguns minutos perto da filha e, depois, os médicos entraram na sala. Ela precisou sair e só foi comunicada sobre a filha às 4h20, quando uma médica informou a morte de Laís. “Eu fiquei sem acreditar. Eu estou vivendo um inferno sem minha pequena".

"Eu entrei com a minha filha e sai sem ela. Veio outra pediatra falando que ela tinha falecido, que eles [a equipe médica] tinham feito de tudo, mas ela teve três paradas e depois mais duas paradas cardíacas”.

Fonte: G1


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