Cresce a busca de adolescentes por cirurgias plásticas e médica do ES esclarece riscos

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, de cerca de 1,5 milhão de procedimentos estéticos realizados em 2016, 97 mil eram pessoas com idade até 18 anos

Foto: Divulgação

A jornada incansável pelo corpo perfeito, impulsionado pelos padrões de beleza impostos na internet tem levado não somente adultos, mas cada vez mais adolescentes para os consultórios dos cirurgiões plásticos.

Para se ter uma ideia, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, cerca de 1,5 milhão de procedimentos estéticos foram realizados em 2016. Desse total, 97 mil eram pessoas com idade até 18 anos.

"Aqui no Brasil há uma cultura de cirurgia plástica, sendo um dos países que mais realiza. Na adolescência há uma série de mudanças corporais que, de uma forma ou outra, acaba causando desconforto para esses jovens. Há alguns anos, tínhamos o bullying como fator influenciador e, hoje, temos as mídias sociais que acabam ditando um padrão de beleza e quem geram mais questionamentos para esses jovens", explica a cirurgiã plástica Patrícia Lyra.

De acordo com a especialista, tem se tornado cada vez mais comum receber pacientes no consultório pedindo para ficar igual a uma determinada pessoa que viu nas redes sociais.

"Há um dimorfismo corporal nesse espaço, lá a gente vê aquelas blogueiras maravilhosas e os pacientes querem ficar iguais a elas. Mas não é possível transformar uma pessoa em outra. Você pode, e deve, buscar a melhor versão de si e não a melhor versão do outro".

Para Patrícia, a pressão social pelo corpo idealizado influencia a nova geração desde as orelhas de abano, passando pelas queixas relacionadas ao desenvolvimento anormal das mamas em rapazes (ginecomastia) e o descontentamento com os mamas grandes em meninas. E isso tem levado a um isolamento social, na tentativa de esconder tais características.

Hoje, além do convívio prejudicado por conta desses questionamentos íntimos, ainda temos a rede social mostrando que o mundo é lindo e os corpos devem ser “perfeitos”. Então, nós temos tanto as questões íntimas, quanto o mundo virtual, influenciando esses adolescentes a buscar correção para características que eles julgam problemáticas.

A cirurgiã plástica ainda respondeu uma série de perguntas para a reportagem do folha Vitória e esclareceu uma série de outras questões. Confira abaixo:

1. Quando a cirurgia plástica é realmente necessária para um adolescente?

R: Tudo depende do segmento envolvido. A avaliação deve ser feita em conjunto, não é simplesmente operar uma parte do corpo. Estamos falando de um paciente que deve ser avaliado na totalidade. De toda forma, ele precisa ter noção de prós e contras.

2. A puberdade é um período que o corpo está em constante mudança. Pensando nisso, quais são os riscos de um adolescente se submeter a uma cirurgia plástica?

R: As cirurgias que envolvem ossos e cartilagens podem, sim, prejudicar o corpo do adolescente. Por isso, há idades para se fazer alguns procedimentos cirúrgicos. A orelha em abano, por exemplo, a gente começa a aceitar a partir dos 7 anos.

Cirurgia nas mamas, nas meninas, devem ser feitas após a primeira menstruação e deve ser avaliado se há chances das mamas continuarem crescendo.

A gente tenta orientar os pais e pacientes sobre o momento adequado. A cirurgia plástica não deve ser feita na hora que ele quer, mas sim na hora que ele pode e que estará em segurança.

Mas, o que temos percebido também é que a gente pode dizer não a um paciente, mas muitos vão continuar procurando até achar alguém que faça e fale o que você quer e aí vem outros riscos. Ao escolher um profissional é preciso, antes de tudo, saber se ele e habilitado para realizar aquele procedimento.

3. O que pais e responsáveis devem levar em consideração ao apoiarem e viabilizarem um procedimento deste tipo?

R: O apoio familiar é de suma importância. A adolescência é um momento de transformações, então, muitas vezes, aquele desejo por mudança é transitório. Cabe aos pais a conversa, a conscientização por esperar mais um pouco para tomar uma decisão mais drástica, tentar postergar o máximo.

Uma menina entre 12 e 13 anos, por exemplo, que não tem mamas crescidas: pode ser que ela ainda passe pelo estirão e que haja esse desenvolvimento. Por isso, é importante esperar esse período de mudanças passar e os pais têm papel fundamental nesse processo.

4. Qual é o impacto das redes sociais nessa decisão de um adolescente em querer fazer uma cirurgia plástica?

R: Nas redes sociais tudo é lindo. Há um uso indiscriminado dos filtros e cria-se um mundo onde todo mundo é perfeito com corpos perfeitos, a ponto de as pessoas não se reconhecerem, aí elas vão buscar o filtro na realidade.

Mas a cirurgia plástica não funciona assim! Às vezes, ela entrega um resultado melhor que de um desses filtros virtuais, às vezes não. Não é possível mudar o perfil de uma pessoa. Por exemplo, se paciente tem o rosto mais largo e quer afiná-lo, o procedimento pode incluir fraturas.

Não é de uma forma onde se mostra que é tudo muito simples. Isso tudo tem que ser conversado com o paciente.

Fonte: Folha Vitória

Postagem Anterior Próxima Postagem