Mitos e verdades: o que é real e fictício sobre cigarros eletrônicos


Apesar do aumento no consumo no Brasil, o produto ainda é cercado por mitos. Conheça agora algumas afirmações muito repetidas sobre os cigarros eletrônicos e saiba quais estão corretas.


Os cigarros eletrônicos, mesmo proibidos pela Anvisa desde 2009, nunca foram tão consumidos no Brasil. Segundo levantamento do Ipec Inteligência, realizado em 2022, o número de adultos que utilizam esses dispositivos regularmente já ultrapassa 2,2 milhões e mais de 6 milhões de adultos fumantes já experimentaram o produto. O levantamento começou a ser feito em 2018, quando eram apenas 500 mil consumidores adultos regulares, um crescimento de 4 vezes neste período.

Apesar disso, ainda existem muitos mitos sobre o assunto. Saiba diferenciar o que está correto do que está errado e entenda como a regulamentação poderia contribuir para o esclarecimento da sociedade e a proteção dos consumidores

Vale ressaltar que vaporizadores e produtos de tabaco aquecido não são isentos de riscos à saúde e são produtos destinados a maiores de 18 anos. Quando regulamentados, os produtos oferecem aos adultos fumantes uma alternativa de menor risco, com padrões de segurança, qualidade, fiscalização e informação adequados.


Cigarro eletrônico é porta de entrada para o tabagismo

MITO

A pesquisa Smoking Toolkit Study, da University College London, que monitora os índices de fumantes na Inglaterra, analisou, ao longo de uma década, o comportamento de 37 mil pessoas entre 16 e 24 anos. Os resultados indicaram que não há uma relação significativa entre o uso dos cigarros eletrônicos e a migração posterior para cigarros convencionais: no pior cenário, apenas uma em cada dez pessoas que fazem uso dos dispositivos eletrônicos se tornará, eventualmente, fumante de cigarro comum.

Além disso, o Centro de Controle e Prevenção de Doença (CDC) dos Estados Unidos, divulga anualmente os dados de consumo de nicotina pelos jovens no país e em 2022, 14,7% dos jovens admitiram ter usado nicotina pelo menos uma vez por mês. O número é o menor percentual identificado no país nos últimos 50 anos e foi registrado apenas um ano depois da regulamentação.


Aromatizantes nos cigarros eletrônicos foram criados para atrair crianças e adolescentes

MITO

Levantamento conduzido pela Yale School of Public Health em 2020 concluiu que os aromatizantes não estão associados à iniciação do cigarro convencional entre menores de 18 anos, “mas sim a um aumento nas chances de cessação entre adultos”. O uso de aromatizantes nos cigarros eletrônicos pode contribuir para a redução dos danos à saúde de adultos fumantes e é considerado como alternativa satisfatória aos cigarros convencionais. O levantamento concluiu que adultos que começaram com cigarros eletrônicos com sabores distintos de tabaco (por exemplo, frutados) estavam mais propensos a parar de fumar do que aqueles que utilizavam o produto sem aromatizantes.

O mesmo estudo também constatou que os aromatizantes não estão associados à iniciação do tabagismo entre menores de 18 anos: “os cigarros eletrônicos sem sabor de tabaco não estavam associados ao aumento da iniciação do consumo entre jovens, mas sim a um aumento nas chances de cessação entre adultos.”


Cigarros eletrônicos são alternativas de potencial risco reduzido

VERDADE

A principal diferença entre os cigarros eletrônicos e os convencionais é que, nos primeiros, não há combustão de tabaco. Com isso, a redução de exposição a substâncias tóxicas ou potencialmente tóxicas pode chegar a 99%, quando devidamente regulamentados, diferente do atual cenário brasileiro. Além disso, entre 100 e 150 substâncias potencialmente tóxicas estão presentes na fumaça dos cigarros comuns, enquanto nos eletrônicos têm menos de 5.

O levantamento mais completo sobre o tema, que contempla a revisão de mais de 400 pesquisas científicas, conduzida pelo King’s College London e divulgada pelo Ministério de Saúde da Inglaterra em 2022, atesta que os efeitos dos chamados vapes para a saúde de terceiros são mínimos quando comparados com os causados pela fumaça do cigarro convencional. A revisão indica que os cigarros eletrônicos regulamentados são 95% menos prejudiciais do que os cigarros convencionais, ou 20 vezes menos nocivos.


Cigarros eletrônicos têm mais nicotina que os convencionais?

MITO

Os cigarros convencionais no Brasil têm uma concentração de nicotina média de 2%, o que significa que cada cigarro tem um total de aproximadamente 13mg de nicotina, totalizando 260mg em um maço de 20 cigarros. Entretanto, ao passar pelo processo de combustão, 1mg de nicotina (no máximo) se transfere para a fumaça, conforme limite máximo definido pela Anvisa. Já no caso dos cigarros eletrônicos vendidos no Brasil sem regras de limites de concentrações e teores, é impossível saber a real composição dos líquidos. Entretanto, se levarmos em consideração os modelos mais comuns comercializados pelo mercado ilegal e a informação presente nas embalagens desses produtos, a concentração informada é de 50mg de nicotina por ml no líquido. Considerando essas variáveis, um cigarro eletrônico de 2ml tem 100mg de concentração de nicotina no líquido (50mg x 2ml), menos que um maço de cigarro, e um cigarro eletrônico de 5ml tem 250mg de nicotina, similar a um maço de cigarro.


Cigarros eletrônicos são opções para adultos fumantes

VERDADE

Cerca de 80 países já regulamentaram os cigarros eletrônicos, com o aval de órgãos de saúde pública. Conhecidos por políticas restritivas em relação ao tabaco, Inglaterra, Suécia e Canadá concluíram, com base em estudos científicos, que os dispositivos eletrônicos são ferramentas importantes para diminuição do consumo de cigarro tradicional e parte de uma estratégia para redução de danos à saúde. Ao tornar os produtos alternativos de nicotina sem fumaça acessíveis, aceitáveis ​​e baratos, a Suécia obteve a menor porcentagem de doenças tabaco-relacionadas na União Europeia e uma incidência de câncer relacionado ao consumo de produtos de tabaco 41% menor do que outros países europeus. O país é um exemplo na experiência com vaporizadores e caminha para alcançar uma taxa abaixo de 5% na prevalência de fumantes nos próximos meses. Esse nível está abaixo do determinado para considerar o local oficialmente ‘livre do tabagismo’. Uma das estratégias utilizadas pela Suécia foi reconhecer os produtos alternativos de entrega de nicotina, por exemplo cigarros eletrônicos, como sendo menos prejudiciais e incentivar os fumantes a mudarem de cigarros convencionais para as alternativas de redução de danos.


Importância da regulamentação

No Brasil, apesar da proibição, a comercialização dos cigarros eletrônicos acontece livremente em bares e tabacarias, nas ruas das cidades, em sites e em aplicativos de compras. Para Alessandra Bastos, farmacêutica e ex-diretora da Anvisa, isso mostra que a proibição não está sendo efetiva e alerta para um cenário preocupante: “sem regras, sem parâmetros, sem informação e sem fiscalização, ninguém sabe dizer o que está sendo vendido, qual a composição, procedência, segurança do dispositivo, entre outros dados relevantes”, afirma.

Por outro lado, uma regulamentação adequada poderia assegurar o comércio legal desses dispositivos, oferecendo aos consumidores adultos, que já utilizam esses produtos, garantia de procedência, de composição e segurança. “A regulamentação também permitirá a definição de regras de importação e divulgação, além do monitoramento da sua utilização pela sociedade, inclusive para o acompanhamento, levantamento de dados e estudos de saúde”, explica.

O médico Renato Veras ressalta que o cigarro eletrônico é uma alternativa para adultos fumantes, mas não é isento de risco e, por isso, o consumo não deve ser incentivado a pessoas que não fumam. “No mundo ideal, nenhum produto de tabaco seria consumido porque todos apresentam riscos. Mas, na vida real, o consumo existe. Por isso, as alternativas de entrega de nicotina precisam ser consideradas. Se há uma opção de menor risco, ela deve ser regulamentada. Diferente de adesivos e chicletes de nicotina, o cigarro eletrônico proporciona uma experiência semelhante ao fumante que busca essa alternativa e, por isso, tem mais chance de êxito”, esclarece Veras.

A discussão sobre regulamentação dos dispositivos ganhou um novo capítulo. A Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal aprovou, em 30 de agosto, a realização de audiência pública sobre cigarros eletrônicos, por meio de requerimento protocolado pela Senadora Soraya Thronicke (Podemos – MS). Depois da movimentação do Senado o tema deve retornar à Anvisa.


Nota:

Vaporizadores e produtos de tabaco aquecido são produtos destinados a maiores de 18 anos, assim como o cigarro. Estes produtos não são isentos de riscos.

A redução de riscos de vaporizadores e produtos de tabaco aquecido é baseada nas evidências científicas mais recentes disponíveis e desde que haja a substituição completa do consumo de cigarros tradicionais.


Fonte: CNN Brasil 




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