Produtores brasileiros miram banana mais resistente a pragas e mais rentável desenvolvida por pesquisadores do ES


Espírito Santo é referência na produção da banana Vitória, mais rentável, mais resistente à pragas e a escassez hídrica. Subvariedade foi desenvolvida a partir do cruzamento do pólen de diversas variedades da fruta.

O Brasil é o quarto maior produtor de banana do mundo, atrás apenas da Índia, China e Indonésia. Por ano, são produzidas cerca de 7 milhões de toneladas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, antes de chegar na mesa do consumidor, o produtor rural dedica diversos cuidados para proteger as bananeiras de pragas sem perder a rentabilidade. Foi após quase 30 anos de pesquisa para minimizar este problema, que uma nova variedade da fruta foi desenvolvida no Espírito Santo, a banana Vitória.

De acordo com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), a banana Vitória foi lançada em 2005 após 27 anos de estudos realizados em parceria com a a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Pólen de diversas variedades foram cruzados para chegar à banana Vitória. — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Um dos profissionais que participou da pesquisa foi o especialista José Aires Ventura. De acordo com o profissional, que estuda a fruta desde 1972, os pesquisadores usaram o polén da flor de bananeira para o cruzamento de diversas variedades da banana, o que resultado na Vitória.

"O objetivo era justamente chegar a uma fruta mais a pragas comuns nos bananais, como a sigatoka-negra, a sigatoka-amarela e o mal-do-panamá", comentou.

Cacho de banana da variedade Vitória pesa cerca de 50 quilos. — Foto: Reprodução/TV Gazeta

O especialista explicou ainda que a Vitória trata-se de uma subvariedade da banana Prata, porém mais resistente às pragas comuns da plantação e também às condições adversas, como escassez hídrica.

"Hoje sabemos, por meio de algumas teses realizadas na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que é uma planta mais tolerante à seca, por exemplo", explicou.

Anos após o lançamento da nova subvariedade da banana, outras vantagens foram descobertas. A fruta também é resistente à broca, praga que pode causar muito prejuízo aos produtores.


Saborosa e mais rentável

De acordo com o especialista em fruticultura e mestre em agronomia Alciro Lazzarini, uma das semelhanças da banana Vitória com a banana Prata trata-se justamente do sabor, o que faz com que a aceitação no mercado seja positiva no mercado.

"Quem consumir, não vai perceber diferença entre a prata e a vitória. É uma banana tão gostosa quanto, porém mais resistente", explicou.

Banana Vitória é subvariedade da banana prata — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Outra vantagem, segundo o especialista é que a rentabilidade. A bananeira Vitória dá um só cacho com cerca de 50 quilos. Apesar de precisar de espaço para se desenvolver, a subvariedade é mais rentável do que as mais convencionais, como a nanica, maçã, prata, ouro e Da terra.

"Ela é mais rentável porque é mais fácil de cuidar, menos exigente em termos nutricionais e até de água. Para ter uma ideia, a banana Praia comum rende 14 toneladas por hectare. Já a Vitória chega a 30 toneladas por hectares. Ou seja, tem muito mais viabilidade", explicou o especialista.

O produtor destacou ainda que a diferente das outras bananas, a Vitória não tem oscilação de produção durante o inverno.

Banana Vitória produz cerca de 30 toneladas por hectare. Espírito Santo é referência na produção — Foto: Reprodução/TV Gazeta

"Ao longo do ano, as outras bananas variam a produção. Ou seja, elas têm um pico de produção, principalmente entre o verão. Pós inverno, elas decaem a produção. Já alguns estudos mostram que a banana Vitória passa o ano com pequenas flutuações, sem dar esse pico e depois recuar muito", explicou.

Alciro destacou ainda que, durante a pesquisa, as análises químicas realizadas também revelaram uma maior resistência à antracnose (doença que causa lesões que comprometem a aparência dos frutos).

"Essas características podem facilitar a adoção dessas cultivares pelos produtores e preferência dos consumidores, já que o primeiro critério de escolha dos frutos, em geral, é a aparência", explicou o especialista.


Produção dentro e fora do Espírito Santo

Produção de banana Vitória é mais rentável para produtores — Foto: Reprodução/TV Gazeta

De acordo com Alciro, logo que foi lançada no Espírito Santo em 2005, o Incaper disponibilizou 100 mil mudas para os produtores rurais dos municípios de Alfredo Chaves, Guarapari, Anchieta, Iconha, São Gabriel da Palha, Nova Venécia, Mimoso, Guaçuí e até Presidente Kennedy.

"O compromisso que os produtores tinham ao receber a muda era que, assim que tivesse colheira da banana, também desse uma muda para outro produtor próximo, que ainda não tinha. Dessa forma, 100 mil se transformaram em 300 mil mudas muito rápido", disse.

Ainda segundo o especialista, logo os produtores de outros estados perceberam o potencial da subvariedade da fruta e as mudas foram enviadas para diversos estados do Brasil, como São Paulo, Amazonas, Pará, Minas Gerais e Bahia.

"Até hoje a gente recebe contato de produtores de outros estados pedindo mudas. Eles querem da gente para ter certeza que é a banana Vitória e que vai ser resistente às pragas mais comuns", finalizou.


De duas mudas para 10 mil bananeiras

Produtor rural Adrino Quintino é referência no cultivo de banana Vitória em Alfredo Chaves, no Espírito Santo — Foto: Reprodução/TV Gazeta

O produtor rural Adrino Quintino começou plantio da banana Vitória há 12 anos com apenas duas mudas na propriedade que tem, em Alfredo Chaves, na Região Serrana do Espírito Santo. Em março de 2024, o produtor já tinha 10 mil pés de bananeiras desta variedade, sendo uma referência para putros produtores.

"Hoje tudo que tenho, que eu produzo e faço na roça, eu tiro da banana. Em torno de um ano, a fruta está produzindo e você está com dinheiro no bolso, né? Isso começou com o meu avô, passou para o meu pai e hoje tá aqui comigo", disse o produtor.

A produção de Adriano é enviada ao Rio de Janeiro. Mas, após o cacho ser retirado, as bananas vão para a etapa de maturação em câmeras frias ainda verde, onde ficam por 48 horas.

"A gente climatiza elas para chegar um produto bom para o consumidor no mercado", disse.


Fonte: g1 ES



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