Profissão do futuro? A crescente demanda por cuidadores de idosos em um Brasil cada vez mais velho


Entre 2019 e 2023 houve um aumento de 15% no número de cuidadores remunerados no Brasil, segundo a Pnad


Em um Brasil que envelhece, uma atividade tão antiga pode também ser uma profissão do futuro. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), entre 2019 e 2023 houve um aumento de 15% no número de cuidadores remunerados no Brasil. A pesquisa estima que eles somavam, em 2023, cerca de 840 mil.

Para compreender o tamanho do mercado em potencial, é importante olhar para o cuidado não remunerado feito no país hoje.

O número de familiares que se dedicavam a cuidados de pessoas de 60 anos ou mais saltou de 3,7 milhões em 2016 para 5,1 milhões em 2019, segundo o IBGE.

São pessoas — na maioria, mulheres — que trabalham muitas vezes na invisibilidade, sem remuneração, fazendo grandes sacrifícios pessoais (por exemplo, abandonando suas profissões, colocando em risco sua saúde e sua própria sobrevivência financeira na velhice), segundo especialistas.

Olhando para essa realidade, especialista afirmam que cuidar já é uma profissão crítica para o Brasil do presente.

Jorge Félix, autor do livro A economia da longevidade: O envelhecimento populacional muito além da previdência, sobre ser uma profissão do futuro, ele diz que isso vai depender, em grande parte, do governo brasileiro. Ele cita o projeto de lei que estabelece a Política Nacional de Cuidado, enviado pelo governo federal ao Congresso.

“Isso vai formar a base para depois você definir e regulamentar a profissão de cuidadora”, diz Félix. “É a primeira vez que o Executivo tenta tomar uma iniciativa sobre a questão do cuidado, principalmente, estabelecendo o direito ao cuidado.”

Félix considera que se trata de um avanço muito grande, mas diz que, por enquanto, o que existe são promessas.

“Durante a campanha presidencial, Lula faz essa promessa de criar um serviço de cuidadora de idosos domiciliar. No meu entendimento, seria um serviço semelhante ao dos agentes comunitários de saúde que já existe no SUS", diz o pesquisador.

"Então, você teria uma pessoa do serviço público que vai à sua casa, te dá banho, ajuda sua família a fazer a gestão dos medicamentos, verifica se a pessoa está bem cuidada com visitas periódicas. São promessas, não é? Promessas.”

Félix acompanha atento os desdobramentos no Congresso. Ele diz que “a profissão de cuidador pode ser uma profissão do futuro caso o Estado ofereça, abrace esse serviço, como ocorre em alguns países ricos”.

Mas, se a promessa não for cumprida, o cenário pintado é preocupante, diz o especialista.

Se o custo do cuidado recair somente sobre a família, o envelhecimento populacional trará um aumento na demanda, mas essas famílias não terão como pagar, diz.

“Somente 20% da população brasileira paga por esse serviço”, diz.

“Se continuar assim, você continua a ter muitas pessoas sem cuidado. Que ficam sozinhas em casa, e morrem em casa sem ninguém saber.”

O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) informou que além de avançar na garantia do direito ao cuidado, a política deve “diminuir a sobrecarga de trabalho de cuidados que hoje recai sobre as famílias e dentro delas sobre as mulheres”.

O ministério disse ainda reconhecer a importância da regulamentação da profissão de cuidador e cuidadora. A pasta disse trabalhar para “atender às demandas das(os) profissionais que atuam neste setor, tais como oferta de formação profissional, elevação de escolaridade da categoria, promoção de trabalho decente (acesso a direitos trabalhistas, fiscalização do trabalho, adequação às normas de segurança e saúde), entre outras”.

Em 2019, o Congresso Nacional manteve veto do então presidente Jair Bolsonaro a um projeto de lei que regulamentava a profissão de cuidador. Na ocasião, o governo justificou o veto dizendo que o texto criava regulamentações “com a imposição de requisitos e condicionantes, ofendendo o direito fundamental de livre exercício profissional”.

Na resposta à BBC Brasil, ao mencionar esse veto, o ministério disse que ele “indica que os termos da regulamentação ainda estão sendo debatidos e disputados no âmbito do legislativo nacional”.

O Ministério da Saúde informou ainda, que além do atendimento oferecido pelos agentes comunitários de saúde (mencionados por Félix), a pasta oferece “atendimento multiprofissional e domiciliar por meio das equipes de Estratégia de Saúde da Família, voltado para demandas de saúde de rotina, especialmente para idosos”.


Fonte: BBC Brasil



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