Pesquisa avaliou os efeitos colaterais do uso da sucralose – e eles são mais importantes do que pensávamos
Se você já viajou para os Estados Unidos, talvez tenha ficado surpreso ao notar um hábito extremamente comum por lá: não importa o que as pessoas estejam fazendo — caminhando na rua, dirigindo ou trabalhando —, quase sempre estão com alguma bebida nas mãos. Em alguns casos, talvez até seja água. Mas, na verdade, a maioria está bebendo algum tipo de café ou bebida adoçada — muitas vezes com adoçantes artificiais.
O objetivo aqui não é traçar um comparativo entre o consumo de adoçantes versus açúcar ou discutir o que é melhor ou pior para a saúde, mas sim entender o que a ciência tem mostrado sobre os efeitos dessas substâncias no organismo — mais especificamente da sucralose, à luz de uma nova pesquisa publicada sobre a substância.
A sucralose é uma forma modificada da sacarose (o famoso açúcar), na qual parte da estrutura molecular é alterada. Essa modificação faz com que ela forneça dulçor sem ser absorvida e sem fornecer calorias. Quando os adoçantes começaram a ser amplamente utilizados acreditava-se que, por não serem absorvidos, não teriam qualquer efeito metabólico, mas há décadas temos evidências do contrário, inclusive com impactos na microbiota intestinal e na sensibilidade à insulina.
Agora, uma nova pesquisa demonstrou alteração na atividade cerebral.

Adoçantes podem causar alterações importantes no organismo Foto: Gu Rezende/Adobe Stock
Esse estudo recente avaliou o efeito agudo do consumo de uma bebida com sucralose, comparando-a ao consumo de água e ao de uma bebida adoçada com açúcar – e os dados foram bastante interessantes. Ele incluiu 74 adultos que não estavam habituados ao consumo de adoçantes. Eles chegaram ao laboratório em jejum e consumiram 300 ml de uma das três bebidas: água pura, com 75 g de açúcar ou adoçada com sucralose (mas ajustada para ter o mesmo dulçor da versão com açúcar).
Após o consumo, os participantes passaram por uma ressonância magnética funcional e avaliações metabólicas.
Um dos achados mais relevantes foi que, após o consumo da bebida com sucralose, os cientistas identificaram a atividade aumentada no hipotálamo, uma região do cérebro crucial para a regulação do apetite e do metabolismo. Já a ingestão da bebida açucarada, como era esperado, foi associada à diminuição da atividade do hipotálamo, indicando que o corpo reconheceu a entrada de energia e, assim, reduziu o estímulo à fome. O mais preocupante é que a atividade cerebral foi ainda mais alterada em pessoas com obesidade, especialmente em mulheres. Isso sugere uma possível maior vulnerabilidade a estímulos relacionados à comida, como propagandas, vitrines e até postagens nas redes sociais.
São dados que reforçam, portanto, a importância de organizar o ambiente alimentar, seja em casa, no trabalho e até o que se assiste nas redes sociais, tentando diminuir os gatilhos que podem nos levar a comer, mesmo sem fome - e isso inclui também uma boa hidratação.
É comum encontrar pessoas que relatam não beber água, mas que consomem bebidas e refrigerantes (mesmo os zero) ao longo do dia – o que é, no mínimo, uma temeridade para a saúde.
É importante reforçar que a água é o líquido mais precioso, perfeito e necessário para a saúde e o bem-estar de todos os seres vivos.
Voltando ao estudo: vale lembrar que ele avaliou uma condição aguda, ou seja, um uso isolado. Os próprios autores discutem que o consumo da bebida com sucralose foi feito sem estar associado a uma refeição. Essa resposta exacerbada pode estar relacionada a um mismatch (incoerência) entre o sabor doce detectado na boca e a ausência de calorias, o que desregularia o sinal metabólico – a consequência seria uma alteração na resposta neural. Eles ainda levantam a hipótese de que é possível que o consumo de sucralose junto com uma refeição não provoque o mesmo efeito, mas isso ainda precisa ser melhor investigado em estudos futuros.
Por causa da nova rotulagem de alimentos, que prevê um alerta na forma de lupa quando houver excesso de alguns ingredientes críticos, muitas empresas alimentícias estão tentando reduzir o teor de açúcar em seus produtos. A estratégia é substituir parte dele justamente por adoçantes, como a sucralose. Afinal, a indústria vai usar todos os recursos disponíveis para tentar deixar seus produtos com aparência de “saudáveis”.
Cabe a nós estarmos atentos. Para isso, o nosso maior poder está na leitura sistemática e cuidadosa da lista de ingredientes. Só assim é possível avaliar, de fato, o que estamos consumindo - e levando para casa para nossa família consumir.
Fonte: Estadão