Por
Claudiana Venancio Ribeiro – (Noroeste News)
Partindo
da bifurcação em que se instaurou nas raias da política brasileira nos últimos
anos e buscando levantar a bandeira do ‘novo', vários movimentos coletivos se
ramificam pelo país com o objetivo de a cada pleito eleitoral apresentar
candidatos com práticas e ideias novas, que sejam principalmente estreantes, advindos
de outros mundos que não o da política, que pareçam para a sociedade, como capazes de
adotar outras formas de atuação no cenário político brasileiro, desvinculadas das
velhas práticas espúrias bem conhecidas em nosso país.
A
diversidade entre esses grupos é grande, a maioria priva-se dos rótulos direita ou esquerda, dão a entender que defendem práticas econômicas
liberais, apresentam um ideal de preocupação social, atuação desvinculada e
combate às desigualdades. Todos defendem a pauta da gestão eficiente e o
combate à corrupção. RenovaBR, Agora!, Brasil21, Acredito, Transparência Brasil
e RAPs são alguns deles, movimentos que se originaram e/ou se fortaleceram no
calor das investigações anticorrupção e dos protestos culminados nas ruas de
norte a sul deste Brasil, principalmente a partir dos anos de 2012/2013.
Essa
iniciativa que seleciona e capacita novas lideranças para atuarem na política
brasileira deu origem a vários parlamentares no pleito de 2018. De forma unânime,
defendem renovação e honestidade. Esses grupos são compostos por empresários,
economistas, cientistas sociais, artistas, personalidades ligadas a diversos
segmentos da política, da economia, da cultura e do esporte.
Os
recursos para as ações dos movimentos são fruto de doações. Em seu portal na internet, um desses
movimentos, informa em seu Relatório Anual de 2018, que em um ano, o movimento
recebeu doações de quase 500 pessoas, incluindo empresários em caráter pessoal
e organizações filantrópicas. O que abre espaço para ponderações é a questão
das doações financeiras recebidas por esses movimentos, embora sejam feitas por
pessoas físicas, podem ser um véu a encobrir ações e intenções descabidas perante
a atual legislação brasileira das campanhas eleitorais.
Os noviços rebeldes
A
votação da reforma da previdência, assunto que há algum tempo é ventilado em todas
as rodas de conversas por onde se passa ganhou um debate extra quando entrou em
votação na câmara dos deputados, o voto rebelde de alguns parlamentares que contrariaram a orientação
de seus partidos e votaram de acordo com suas próprias convicções. A 'rebeldia' dos novatos egressos desses movimentos, Tabata do Amaral (PDT-SP) e Filipe
Rigoni (PSB-ES) foram as mais debatidas e questionadas. O posicionamento deles
os levou a sofrer advertências internas de suas siglas e até a possibilidade de
serem expulsos dos partidos pelos quais foram eleitos. O que fica de
questionamento no caso desses ‘noviços rebeldes’ é: O voto contrário a orientação
partidária é fruto de convicção pessoal ou fruto do interesse de seus
financiadores? O óbvio é que, se não me identifico com a ideologia e as
bandeiras de um partido, não me filio a ele. Simples assim!
Remendo novo em pano velho
Ao
falar recentemente para o jornal global El País Brasil, Fernando Limongi,
cientista político da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas,
argumentou que sob a fachada de renovação desses grupos, muitas vezes está
a velha política de sempre, porém, com um novo disfarce. “O que
alguns empresários estão fazendo é driblar o sistema. Como não podem financiar
campanhas (o Supremo Tribunal Federal proibiu doações de empresas em
2015), financiam indiretamente a criação de líderes políticos”, explica. Com um
acréscimo, diz: "aplicam à política um discurso empresarial, entregue à eficácia
e aos resultados."
Atualmente,
os ‘fabricados’ por esses movimentos suprapartidários só legislam. Entre
deputados federais, estaduais e senadores, 34 foram eleitos no ano passado, 16 deles são
estreantes na política, nunca tiveram mandatos, como é o caso dos supracitados
Tabata e Felipe. Portanto, esses movimentos independentes agora se preparam
para governar, e pensando em viabilizar esse desejo, já trabalham em seus núcleos
os processos de seleção e capacitação
dos que serão preparados para disputar no ano que vem as vagas de prefeitos e
vereadores.
Acredito,
Agora! e RenovaBR são os três grupos que mais trabalham a ‘fabricação’ de novas
lideranças, sobretudo jovens, que nunca exerceram função política, ávidos,
segundo eles, em trabalhar soluções para a problemática brasileira. O RenovaBR tem
um processo de seleção para definir os bolsistas a serem capacitados para a disputa
e exercício da função política.
Até aí
tudo bem, mas, algumas ponderações são cabíveis dentro desse oceano de boas
intenções. Do que vejo, dentro da composição desses grupos, existem peças
humanas que, antes de tudo, não abrem mãos de seus interesses econômicos e se
utilizam desse modelo coletivo para defender seus próprios interesses e ‘seus
valores’ usando o discurso de que são apenas apoiadores e incentivadores da nova política. Estão tomando providências para lhes garantir o futuro neste
país que, corriqueiramente insistem em transforma-lo num circo.