O
aumento na produção de notícias e reportagens feitas exclusivamente a partir da
análise de bases de dados motivou a criação do primeiro curso sobre microdados
do IBGE para jornalistas. O treinamento foi oferecido para 25 profissionais no
sábado (23), durante a Conferência Brasileira de Jornalismo de Dados e
Métodos Digitais, o maior evento do setor na América Latina, em São Paulo (SP).
Os
microdados são o nível mais desagregado das pesquisas, o que permite que
qualquer pessoa com conhecimento de programação crie seus próprios indicadores.
No caso dos jornalistas, o acesso a esse tipo de informação pode
significar novas pautas. A Agência IBGE Notícias já deu exemplo de como o
trabalho com microdados pode gerar matérias exclusivas, quando revelou que
o desemprego no interior é menor, porém concentra quase dois terços das pessoas
na informalidade.
Outro
exemplo mais recente foi feito pela Agência Pública, que trabalhou com
microdados do Censo Agropecuário para mostrar que a área total dos
estabelecimentos cujo produtor é branco equivale ao dobro da área dos
estabelecimentos com produtores pretos ou pardos. Para essa matéria, os dados
foram rodados pelo IBGE a pedido do repórter Bruno Fonseca, que participou do
treinamento. “Até pelo nosso caráter investigativo, pensamos em como colocar o
IBGE na nossa rotina de uma forma que tenhamos matérias para além da data de
lançamento das pesquisas”, disse Bruno.
Durante
a atividade, os participantes conheceram conceitos e metodologias da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), da Pesquisa de
Orçamentos Familiares (POF) e da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), todas
disponíveis no Portal do IBGE.
Também
foi apresentado um pacote da PNAD Contínua, espécie de manual para
facilitar o download, a importação e a análise dos dados amostrais da pesquisa.
“O microdado está no nosso Portal, mas se a pessoa não for especializada em
amostragem, ela vai ter dificuldade. A ideia do pacote é que o usuário não
dependa desse conhecimento superespecializado para usar corretamente os
microdados”, explicou a estatística do IBGE, Luna Hidalgo, que apresentou o
curso com o também estatístico, Gabriel Assunção.
“Precisamos
contar com os jornalistas para fazer a difusão externa do pacote, até porque
isso calibra a nossa linguagem”, disse Luna, complementando que o evento foi
uma oportunidade para lançar o curso e identificar o que pode ser aprimorado.
É a
segunda vez que o IBGE participou da conferência, que já recebeu um workshop sobre
como aumentar a eficiência das buscas em portais especializados do instituto,
como o Banco de Tabelas Estatísticas (Sidra) e o Cidades@. “Este ano,
a formação com os microdados do IBGE possibilita que o próprio jornalista
descubra novas matérias e consiga extrair insights e informações relevantes de
forma mais autônoma e independente, possibilitando novos cruzamentos”, disse o
coordenador da Escola de Dados, Adriano Belisário, um dos organizadores.
A
repórter da Folha de S. Paulo, Marina Gama Cubas, estudou na Espanha e adquiriu
experiência com as estatísticas governamentais do país, mas agora ela quer ter
mais contato com os dados do IBGE. “Queremos trabalhar mais especificamente com
dados da PNAD Contínua, inclusive porque a própria editoria de economia fala
que é muito pouco explorado”, contou a jornalista do DeltaFolha, equipe de
jornalismo investigativo com dados.
O
curso atraiu também profissionais que fazem a cobertura diária do IBGE, como o
jornalista do Globo, Pedro Capetti, que espera encontrar boas histórias por
trás de cada pesquisa. “Foi uma grande oportunidade de conhecer de perto como
são produzidas e trabalhadas as pesquisas que divulgamos, principalmente pela
mistura de conceitos estatísticos e de programação envolvidos, distantes da
rotina diária da maior parte dos jornalistas”.
Além
de representantes de veículos de comunicação, o curso contou com a presença de
membros de organizações sociais, como o Instituto de Políticas de Transporte e
Desenvolvimento (ITDP), que trata o transporte público como meio de
desenvolvimento social. “O IBGE é nossa principal fonte, porque vai em todo
país e consegue estratificar até o setor censitário”, disse o estagiário de
Programas do ITDP, Matheus Dantas.
Fonte: IBGE Noticias