Desde os primeiros
casos do novo coronavírus (SASR-CoV-2), pesquisadores do mundo todo investigam
possíveis tratamentos para os pacientes da COVID-19 e até mesmo potenciais
vacinas para imunização. Ainda sem um remédio específico, os casos mais graves,
como os de pacientes internados em UTIs, são tratados de forma
experimental com medicamentos off-label, ou seja, com um uso que se difere
do que consta na bula.
No entanto, mesmo
para redirecionar o uso de um medicamento, como buscam fazer para a COVID-19,
os pesquisadores precisam demonstrar que a fórmula é eficaz e segura para o
novo uso, afinal são diferentes agentes infecciosos. Para conter um novo vírus,
por exemplo, as dosagens, provavelmente, são diferentes — e o quadro de saúde
de quem vai receber a droga também pode ser outro. Nesse cenário, uma doença
que causa insuficiência cardíaca não deveria ter como tratamento um remédio
que, comprovadamente, altere o funcionamento do coração.
Afinal, o que se faz
tão necessário para a aprovação para o uso de um medicamento contra o novo
coronavírus? Lembrando que os cientistas já investigam há mais de seis meses
esse vírus. Só que isso, no universo das pesquisa científicas, é muito pouco e,
fora do contexto da pandemia, levaria ao menos dois anos para a provação de uma
droga para a COVID-19, como em um estudo clínico controlado e centenas de
testes em milhares de pessoas.
Diferença entre in vitro e in vivo
As pesquisas para o
uso de um medicamento devem contar com experimentos in vitro, ou seja, em
uma cultura de células, dentro de um laboratório, mas também in vivo,
quando o composto é testado diretamente em pacientes biologicamente ativos,
sejam animais ou seres humanos. Isso porque os resultados encontrados em
um ambiente controlado podem ser muito diferentes dos encontrados em um
organismo vivo.
Em outras palavras, o
fato de uma substância funcionar contra o novo coronavírus num experimento in
vitro não é uma prova de que ele também irá valer para o paciente com a
COVID-19 e nem que ele seja seguro para um uso diferente daquelas dosagens e
prescrições clínicas aprovadas anteriormente para outros fins. Isso implica em
dois pontos: usos experimentais de um medicamento podem acontecer, desde que
acordado entre médico e paciente, em estudos; e a automedicação quando feita, a
partir de informações duvidosas, pode representar um grave risco à saúde.
A seguir, confira a
lista com os principais remédios que são testados e prescritos, de forma
experimental, para o tratamento de casos do novo coronavírus:
Ivermectina
Para que serve? A ivermectina é
um remédio normalmente indicado para o combate de diferentes tipos de
vermes e parasitas no corpo humano.
Qual a relação com o
coronavírus? Pesquisas sugerem que o medicamento pode inibir a
replicação do novo coronavírus in vitro. No entanto, um estudo
do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP apontou para o fato
da ivermectina ter atividade antiviral in vitro, mas não de forma não
seletiva, ou seja: a droga pode eliminar o vírus das amostras, só que também
mata as células portadoras.
Qual o status em
agência reguladora? Segundo nota da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), "não existem estudos conclusivos que comprovem o uso
desse medicamento para o tratamento da COVID-19, bem como não existem estudos
que refutem esse uso". Além disso a agência afirma: "o uso do
medicamento para indicações não previstas na bula é de escolha e
responsabilidade do médico prescritor".
Uso comprovado contra
COVID-19? Não.
Cloroquina e Hidroxicloroquina
Para que serve? Tanto a
cloroquina quanto a hidroxicloroquina são dois medicamentos, atualmente,
autorizados para tratamentos contra a malária e determinadas doenças
autoimunes, como lúpus e artrite reumatoide. Embora sejam duas drogas
"diferentes", a hidroxicloroquina é derivada da cloroquina.
Qual a relação com o
coronavírus? No início da pandemia, a cloroquina e a hidroxicloroquina
foram consideradas grandes apostas para o enfrentamento do novo coronavírus.
Isso porque, em ensaios in vitro, a cloroquina se mostrou eficaz e
seletiva contra o coronavírus, mas no organismo humano não se mostrou efetiva,
de acordo com estudo do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP.
Qual o status nas
agências reguladoras? Entre as recomendações do Ministério da Saúde está
o uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina, no tratamento precoce de
pacientes com COVID-19, no Sistema Único de Saúde (SUS) — desde que acordado
entre médico e paciente. No entanto, a Fiocruz se posicionou de forma
contrária ao uso. Já a Anvisa afirma que "não existe ainda nenhum ensaio
clínico concluído que comprove os benefícios da hidroxicloroquina no caso da
COVID-19".
Além disso, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) suspendeu pesquisas relacionadas ao uso do
medicamento e a Food and Drug Administration (FDA), agência norte-americana
equivalente à Anvisa no país, também não autoriza mais o seu uso.
Uso comprovado contra
COVID-19? Não.
Azitromicina
Para que serve? A
azitromicina é um antibiótico bastante conhecido e, normalmente, utilizado em
humanos para o tratamento de infecções no trato respiratório.
Qual a relação com o
coronavírus? O medicamento não é utilizado de forma isolada contra o novo
coronavírus e, sim, de forma associada. Sua ação foi investigada quando
associado à cloroquina e à hidroxicloroquina para pacientes da
COVID-19.
Status nas agências
reguladoras? O uso da azitromicina está, diretamente, ligado à liberação
das drogas associadas.
Uso comprovado contra
COVID-19? Não.
Nitazoxanida
Para que serve? A nitazoxanida,
que é o princípio ativo dos antivirais mais conhecidos como Azox ou Annita,
é indicada, na maioria dos casos, para combater parasitários e vermes.
Qual a relação com o
coronavírus? As primeiras pesquisas apontaram que, após 48 horas de uso in
vitro, o medicamento apresentou eficácia de 93,4% contra o coronavírus. No
entanto, um recente estudo do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP
observoiu que a fórmula tem atividade antiviral in vitro, mas não de forma
não seletiva, ou seja: a droga pode eliminar o vírus das amostras, só que
também mata as células portadoras.
Status nas agências
reguladoras? Com o anúncio de estudos com a droga contra a COVID-19, a
Anvisa passou a classificar a substância como de uso
controlado, através de inclusão na Lista de Substâncias Entorpecentes,
Psicotrópicas, Precursoras e Outras sob Controle Especial. No entanto, a
agência ainda não se posicionou quanto ao uso.
Uso comprovado contra
COVID-19? Não.
Dexametasona
Para que serve? A dexametasona é
um anti-inflamatório esteroide de uso bastante popular pelo mundo e é usado
contra inflamações das mais variadas ordens. Por exemplo, é usadas para combater
infecções fúngicas e bacterianas, como meningite e um tipo específico de
pneumonia comum em pacientes com HIV.
Qual a relação com o
coronavírus? A partir de uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de
Oxford, foi atribuído ao medicamento a melhora dos quadros graves de
pacientes com COVID-19. Atualmente e antes da pandemia, hospitais costumam
usar corticoides, como esse, para auxiliar nos quadros mias graves de infecção
pulmonar.
Qual o status nas
agências reguladoras? “Atualmente, existe um estudo aprovado e em
desenvolvimento no Brasil para o uso de dexametasona no tratamento de COVID-19.
O tempo para o desenvolvimento destes estudos depende do patrocinador da
pesquisa e das instituições de pesquisa envolvidas”, afirma a Anvisa.
Uso comprovado contra
COVID-19? Não.
Daclatasvir e Sofosbuvir
Para que serve? Tanto
o daclatasvir quanto o sofosbuvir são dois medicamentos antivirais,
normalmente receitados para o tratamento de pacientes diagnosticados com a
hepatite C.
Qual a relação com o
coronavírus? Os dois antivirais foram testados in vitro e se
observou a capacidade de inibirem a replicação do novo coronavírus (SARS-CoV-2)
em experimento realizado pela Fiocruz. Entre eles, os experimentos
identificaram que o antiviral daclatasvir tem melhor potencial para conter o
desenvolvimento da COVID-19. Ainda é necessária a validação dos medicamentos em
estudos clínicos para eventual aprovação.
Qual o status nas
agências reguladoras? Por se tratar de um estudo recente, a Anvisa ainda
não se pronunciou sobre os medicamentos.
Uso comprovado contra
COVID-19? Não.
Remdesivir
Para que serve? O remdesivir é um
antiviral que já foi testado contra o Ebola e mostrou alguma eficácia para
SARS (síndrome respiratória aguda grave) e MERS (síndrome respiratória do
Oriente Médio).
Qual a relação com o
coronavírus? Alguns estudos apontam para evidências de que o
remdesivir pode acelerar o tempo de recuperação de pacientes graves.
Qual o status nas
agências reguladoras? No contexto da pandemia, o medicamento recebeu
autorização de uso emergencial para os pacientes contaminados, emitido pela
Food and Drug Administration (FDA). A Agência Europeia de
Medicamentos (EMA) também recomendou a autorização "condicional" do
seu uso. No Brasil, a Anvisa afirmou estar em contato com
a responsável pela fabricação para acompanhar a evolução dos estudos. Por
enquanto, o remdesivir também não possui pedido de registro no Brasil.
Uso comprovado contra
COVID-19? Não.
Com Informações Ministério da Saúde/Canaltech