A informação está em levantamento da People's Vaccine Alliance
Relatório
divulgado hoje (9) pela People's Vaccine Alliance alerta que cerca de 70
países pobres ou em desenvolvimento só serão capazes de vacinar uma em cada dez
pessoas durante o próximo ano, porque a maioria dos produtos mais
promissores, entre elas a da Moderna, da Pfizer e da Astrazeneca, já foram
comprados pelos países ricos.
Na Europa,
nos Estados Unidos e na maioria dos países do Leste Asiático, os governos já
compraram milhões de doses de vacinas contra a covid-19 e preparam os planos de
vacinação para as populações.
No
Reino Unido, a vacinação em massa dos grupos mais vulneráveis começou
nessa terça-feira (8) e, embora ainda aguardem pela aprovação das agências
de medicamentos, os Estados Unidos e a Europa já encomendaram vacinas
suficientes para imunizar as populações a partir das próximas
semanas. Enquanto os países ricos adquirem em massa as três vacinas para
as quais foram anunciados resultados de eficácia, os países mais desfavorecidos
não terão capacidade para vacinar nove em cada dez pessoas.
Os
países mais ricos, ou pelo menos com capacidade para comprar doses suficientes
das vacinas e proteger a população da covid-19, representam apenas 14% da
população mundial. Contudo, já detêm 53% das vacinas mais promissoras.
Segundo
o relatório, as nações mais ricas compraram doses suficientes para vacinar
toda a população quase três vezes até o fim de 2021, se todas as vacinas
atualmente em testes clínicos forem aprovadas.
O
Canadá está no topo da lista dos países que mais doses acumulam: comprou
mais doses per capita do que qualquer outro país, tendo o suficiente
para vacinar cada pessoa cinco vezes, diz a organização, que inclui a
Anistia Internacional, a Frontline Aids, a Global Justice Now e a Oxfam.
Vacinas
Apesar
de a farmacêutica AstraZeneca já se ter comprometido a fornecer 64% das
doses da vacina, desenvolvida com a Universidade de Oxford, para imunizar
pessoas em países em desenvolvimento, a organização alerta que não será
suficiente porque uma empresa sozinha não consegue fornecer a grande parte
do mundo.
Embora medidas já estejam sendo tomadas em nível global para garantir que
o acesso às vacinas seja justo e igual, ativistas consideram que são
necessárias ações urgentes por parte dos governos e da indústria farmacêutica.
O projeto Covax, uma aliança global, já conseguiu garantir 700 milhões de doses
de vacinas para serem distribuídas entre os 92 países mais pobres envolvidos
nessa organização.
"Ninguém
deve ser impedido de receber uma vacina que salva vidas por causa do país em
que vive ou da quantidade de dinheiro que tem. Mas, a menos que algo mude
drasticamente, muitos milhões de pessoas em todo o mundo não receberão uma
vacina segura e eficaz para covid-19 nos próximos anos", alertou Anna
Marriott, gestora de políticas de saúde da Oxfam.
As
doses da vacina da Pfizer e BioNTech, aprovada no Reino Unido na semana
passada, irão quase todas para os países ricos - 96% das doses foram
adquiridas pelo Ocidente. A vacina Moderna, que usa uma tecnologia
semelhante e tem 95% de eficácia, vai exclusivamente para países ricos.
Os
preços dos dois produtos, no entanto, são elevados, e as condições de
armazenamento em temperatura extremamente baixas vão dificultar para os países
mais desfavorecidos.
A vacina da Universidade de Oxford/AstraZeneca, que tem 70% de eficácia, é
estável em temperaturas normais de frigoríficos, e o preço definido é
relativamente baixo para permitir o acesso a todos. Mas, no máximo, esse
imunizante consegue chegar a 18% da população mundial no próximo ano.
Acesso a todos
A
People's Vaccine Alliance faz um apelo a todas as empresas farmacêuticas
que trabalham no desenvolvimento e produção de vacinas contra a covid-19 para
que compartilhem a tecnologia e propriedade intelectual, por meio da
Rede de Acesso à Tecnologia Covid-19 da Organização Mundial da Saúde. O
objetivo é que possam ser fabricadas milhões de doses a mais de vacinas
seguras e eficazes, de forma a que todos tenham acesso à proteção contra a
doença. "Os governos devem garantir que a indústria farmacêutica coloque a
vida das pessoas acima dos lucros", afirmou Heidi Chow, da Global Justice
Now.
A Aliança também pede aos governos que façam tudo que estiver ao seu alcance
para garantir que as vacinas se tornem um bem público global - gratuitas,
distribuídas de forma justa e com base nas necessidades.
"A
acumulação de vacinas prejudica ativamente os esforços globais para garantir
que todos, em todos os lugares, possam ser protegidos da covid-19",
afirmou Steve Cockburn, Chefe de Justiça Econômica e Social da Amnistia
Internacional. "Os países ricos têm obrigações claras sobre os
direitos humanos, não apenas de se abster de ações que possam prejudicar o
acesso às vacinas em outros lugares, mas também de cooperar e prestar
assistência aos países que dela necessitem".
*Com informações da RTP/Agência Brasil