Discrição e pouca transparência geram apreensão sobre saúde do Papa Francisco

Papa Francisco passa ao lado de tapeçaria com imagem do falecido Papa João Paulo II, após audiência geral semanal na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 30 de abril de 2014 — Foto: Alessandro Bianchi/Reuters

Sempre envolta em mistério, a saúde dos pontífices costuma abalar os alicerces do Vaticano toda vez que ameaça o reinado de seu inquilino vitalício, em geral idoso e mais vulnerável. É o que acontece com o Papa Francisco, de 84 anos, hospitalizado desde domingo na Policlínica Gemelli, a que João Paulo II, em uma de suas internações, referiu-se como "Vaticano número 3" (ou seja, a terceira casa do pontífice).

Francisco foi submetido a uma cirurgia para a retirada de parte do cólon, que se revelou depois ser mais grave e extensa do que o previsto. Os fiéis foram surpreendidos, no próprio domingo, com o anúncio repentino de uma operação para tratar a estenose diverticular sintomática do cólon, que já estaria programada.

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A apreensão em torno da saúde papal e o ceticismo gerado pelas informações da Santa Sé são justificados e têm antecedentes traumáticos entre o rebanho católico. Basta lembrar a lenta agonia de João Paulo II, que sofria de Mal de Parkinson e ingressou dez vezes na ala do Gemelli reservada aos papas.

Exímio esportista, ao longo de seus 26 anos no comando da Igreja Católica, o Pontífice foi tornando-se encurvado e com a saúde visivelmente deteriorada. Nos últimos tempos, demonstrava também problemas respiratórios e dificuldades para falar, contrariando o que dizia o Vaticano. Ainda assim, manteve-se à frente da Santa Sé até a morte, em abril de 2005.

Neste contexto, de discrição e pouca transparência, é natural que se especule sobre o real estado de Francisco em sua primeira internação no Gemelli. Sem parte de um dos pulmões desde os 21 anos, o Papa tem demonstrado vigor e boa saúde. Ele não esconde sofrer de dor crônica no ciático, que tenta aliviar com fisioterapia, massagens e anti-inflamatórios.

Grupo de pessoas, incluindo ex-moradores de rua e membros da Comunidade de Santo Egídio, faz vigília com flores e cartazes em apoio ao Papa Francisco, em 9 de julho de 2021, em frente ao hospital Agostino Gemelli, onde o pontífice foi internado para cirurgia no cólon — Foto: Riccardo De Luca/AP

Mas, no regresso de Bagdá a Roma, em março passado, após uma parada de um ano nas viagens, forçada pela pandemia, ele admitiu ter se cansado "muito mais do que nas outras vezes".

A cirurgia extensa, planejada para coincidir com o período de férias, levanta dúvidas sobre os efeitos que terá na agenda do Papa. A celebração do Ângelus dominical, da sacada do hospital, uma semana após a colectomia, procura dar aos fiéis um indício de aparente normalidade.

Numa entrevista em 2015, Francisco ponderou que a renúncia de Bento XVI não deveria ser considerada uma exceção. Chegou a prever que sua missão como chefe da Igreja Católica seria curta, entre dois e cinco anos. Já dura oito.

G1



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