AVC: como prevenir uma das principais causas de morte no Brasil


O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das principais causas de morte no Brasil. A verdade é que como o próprio nome sugere, o episódio acontece de forma repentina, mas é possível identificar os sinais e cuidar da própria saúde para se prevenir deste mal.

O AVC, na verdade, se refere a três tipos diferentes de problemas, a depender da causa: o isquêmico, o hemorrágico e um terceiro, também ocasionado por um sangramento, só que causado por um aneurisma.

AVC isquêmico

O mais comum deles, o isquêmico acontece quando há a obstrução de uma artéria cerebral, o que causa falta de oxigenação na região afetada, levando à morte de neurônios.

Mas quais são os principais sintomas de um mal súbito? De acordo com o neurologista Sérgio Baumel, os sinais de alerta dependem da área do cérebro que é afetada pela doença.

"O que é mais comum é que quando a lesão acontece na parte do cérebro que controla movimentos de um lado do corpo, a pessoa perca esta movimentação. Se acontecer do lado direito, a pessoa perde movimentos do lado esquerdo do corpo e vice-versa", disse.

"Mas também pode acontecer de a pessoa ficar em coma, perder a fala, perder completamente a mobilidade. Qualquer tipo de atividade controlada pelo cérebro pode ser afetada", completou.

AVC hemorrágico

Já o AVC hemorrágico acontece quando a artéria obstruída acaba se rompendo, causando um sangramento naquela região do cérebro. De acordo com o médico, é um tipo de sangramento que pode ocorrer em alguma parte do hemisfério cerebral, normalmente este tipo está associado a pressão alta.

Pode ou não causar uma dor de cabeça. Também costuma vir acompanhado de algum sintoma parecido com a paralisia. O sangramento também pode acontecer por conta de um aneurisma, só que dessa vez, nas membranas que envolvem o cérebro, causando dor aguda.

"A pessoa sabe identificar até o milésimo de segundo que começou a sentir aquela dor", conta o neurologista.

Para evitar desenvolver este tipo de problema, o profissional recomenda o de sempre: manter uma alimentação balanceada, fazer exercícios com moderação, evitar o tabagismo, cuidar da pressão alta e da diabetes e um conselho não tão comum: evitar o estresse.

"É um desafio a ser vencido, mas as pessoas precisam aprender a ver o mundo de outra forma, a se estressar menos. Pois o estresse aumenta as chances de ter AVC, pois aumenta a pressão, aumenta a adrenalina".

Identificar os sinais e procurar ajuda

O neurologista Daniel Escobar corrobora as informações do colega e acrescenta ainda os sinais de alerta para procurar ajuda logo no início.

"Os principais sintomas são perda de força de um lado, alteração visual súbita, a boca fica torta, a fala fica enrolada. Alteração de sensibilidade de um lado do corpo, dificuldade para andar", disse.

"A pessoa precisa ficar atenta quando esses sintomas acontecem de forma súbita. Uma hora ela estava bem, de repente o sintoma acontece. Isso é um indicativo, é uma emergência médica", completou.

De acordo com o médico, o atendimento deve ser feito em um hospital especializado. Caso o paciente seja segurado por uma operadora de saúde, deve ser encaminhado para um hospital desta seguradora, fazendo o contato com a própria operadora ou com o Samu.

Já pessoas que utilizam o sistema público devem acionar exclusivamente o Samu, ainda na ambulância, serão reconhecidos os sintomas e o paciente será encaminhado ao Hospital Estadual Central, que é o hospital de referência.

Ainda segundo o neurologista, pessoas que já sofreram o AVC correm o risco de sofrer um novo episódio, por isso a importância de um acompanhamento regular. "Se a pessoa teve um AVC e não teve nenhum déficit, ou teve um início, que é o que chamamos de Ataque Isquêmico Transitório, a gente tem que aproveitar essa situação para investigar adequadamente o que causou", disse.

"O AVC tem nome e sobrenome. Se a gente descobre que o paciente teve um AVC isquêmico secundário ou uma arritmia cardíaca, damos o remédio para que ele não tenha isso de novo. Por isso, a prevenção primária que fazemos para o paciente não ter AVC é importante. Mas se ele já teve, a prevenção secundária é primordial, para que não recorra".

O médico aponta ainda outra consequência pouco falada do AVC: o impacto social da doença. Muitas vezes, pacientes vítimas do acidente vascular acabam perdendo toda a movimentação, ficando acamadas. O que impacta não apenas suas vidas, mas a de seus familiares e cuidadores.

Segundo ele, entre 20% e 30% das pessoas que sofrem AVC acabam precisando de cuidados constantes após o episódio cardiovascular.

Para quem suspeita que possa estar com os sintomas, Escobar é categórico "Tenha consciência de que é uma emergência médica. Entre em contato com o serviço de atendimento móvel. Do outro lado da linha está um profissional capacitado para te atender".

O médico avisa ainda, que após o contato, o hospital já é alertado sobre a chegada do paciente, o que aumenta a velocidade do fluxo de atendimento na chegada ao hospital, fazendo com o que ele ganhe tempo.

A vida após sofrer um AVC

Para quem já encarou um AVC, cada dia após um Acidente Vascular Cerebral é um recomeço e uma nova oportunidade. É o caso da Vera Ferrari, 63 anos, que teve um episódio hemorrágico em 2013, enquanto estava na igreja.

Segundo ela, o diagnóstico veio como uma surpresa, uma vez que mantinha um estilo de vida ativo e não fazia uso de nenhum medicamento, mas admite que se descuidou com a pressão.

"Eu tinha 53 anos, foi em outubro de 2013, estava na igreja e comecei a sentir uma dor de cabeça muito forte. Eu fazia parte de um grupo de andarilhos em que participava um médico, ele sempre orientou a olhar a pressão, mas acabei não fazendo isso", revelou.

Após o episódio, Vera conta que passou por um período de investigação para entender o que ocorreu. Já que não fumava, não bebia e praticava atividades físicas, o que restava era mesmo a pressão, mas nunca obteve uma resposta definitiva sobre o caso. "A médica sempre me disse que houve um derrame, mas nunca conseguimos bater o martelo sobre o que causou".

Uma década depois do AVC, Vera leva uma vida normal e completamente sem sequelas. Claro, a filha nutricionista fica sempre no pé para garantir uma alimentação balanceada sem frituras, massas ou doces.

Os exercícios? Continuam a fazer parte da rotina, mas de forma mais moderada. "Ainda faço atividades físicas, mas hoje em dia o que mais me incomoda é um problema no joelho, do AVC não tenho sequela ou sintoma algum, somente os remédios".

As consultas com neurologistas continuam a acontecer semestralmente e Vera admite que após o acidente, enfrentou uma fase mais introspectiva e até alguns dilemas psicológicos, mas que tudo isso apenas lhe deu mais forças.

"Fiquei muito abalada psicologicamente, me via como uma sobrevivente. Pouco depois também fiquei viúva, as responsabilidades aumentaram. Mas eu acredito que todos nós temos uma missão aqui e só tenho a agradecer pela vida", contou.

Fonte: Folha Vitória


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