Mães artesãs encontram espaço no mercado e empreendem com brinquedos inclusivos


Conheça a história de três mulheres que após o nascimento dos filhos, passaram a empreender e desenvolveram brinquedos que auxiliam no desenvolvimento cognitivo e intelectual das crianças.

Depois de se tornarem mães, 40% das mulheres saem do mercado de trabalho formal e só conseguem retornar, em média, cinco anos após o nascimento dos filhos. Esses dados são de uma pesquisa de doutorado acompanhada pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

Nesse contexto, muitas migram para o empreendedorismo. No Brasil, 1,87 milhão de mães são microempreendedoras e outras 1,88 milhão classificadas como empresárias, de acordo com levantamento feito neste ano pelo Datahub.

Carla Duarte, Cristina Atanes e Márcia Siolli são três mulheres inseridas neste grupo. Elas são mães de filhos neuroatípicos e, após o nascimento das crianças, passaram a empreender como artesãs, desenvolvendo brinquedos que auxiliam no desenvolvimento cognitivo e intelectual.

Cristina, Márcia e Carla são mães de filhos neuroatípicos e passaram a empreender como artesãs — Foto: Fábio Tito/ g1

Empreendedorismo a partir da experiência pessoal

"Criança precisa brincar, independentemente de qualquer condição que ela possa ter." É isso o que pensa Márcia, fundadora da marca de brinquedos "Comer, Brincar e Sonhar". Ela também dá aulas ensinando outras artesãs a estruturarem seus negócios e, junto a elas, formou uma rede de pequenas empresárias que produzem brinquedos inclusivos.

Foi por meio dos cursos que Márcia conheceu Carla, criadora da "Cailu Brinquedos", e Cristina, dona da "Mamãe Arteira". Hoje, elas compartilham experiências pessoais, estudam sobre condições neurológicas e desenvolvem seus produtos para venda.

Márcia Acioli, empreendedora na 'Comer, Brincar, Sonhar' — Foto: Fábio Tito/ g1

Márcia percebeu que seu talento para criar brinquedos poderia virar uma atividade rentável durante a festa de aniversário de um ano do filho Bento, que hoje tem 8. Ela foi a responsável por elaborar a decoração e uma psicóloga, amiga de sua cunhada, gostou do trabalho e fez um pedido de novas criações de produtos para uma oficina que faria sobre emoções para crianças.

Depois disso, ela começou a fazer itens artesanais voltados para crianças e vendia, principalmente, para educadores e psicólogos.

Quando recebeu o diagnóstico do filho, que tem transtorno de oposição desafiante (TOD), Márcia se debruçou sobre os brinquedos que auxiliam no desenvolvimento intelectual de crianças atípicas e encontrou sua paixão.

'Se eu posso fazer para ela, posso fazer para mais pessoas'

Cristina Antunes, artesã e empreendedora na Mamãe Arteira — Foto: Fábio Tito/ g1

A filha mais velha de Cristina, a Isabella, de 10 anos, tem síndrome de down. A empreendedora conta que recebeu o diagnóstico no parto e, a partir dali, sabia que se tornaria uma mulher multifacetada, reunindo as funções de mãe, enfermeira, terapeuta, fonoaudióloga e tudo o que a filha precisasse.

O que ela não imaginava é que se tornaria artesã. Mas, na época da pré-alfabetização da menina, percebendo as necessidades para melhorar o desenvolvimento da filha, começou a desenvolver alguns recursos e produtos.

Com o passar dos anos e observando a evolução da filha, ela percebeu que os brinquedos ajudavam também os irmãos mais novos da Bela, como é chamada, já que "cada criança, típica ou atípica, tem seus próprios desafios de aprendizagem".

Brinquedos inclusivos desenvolvidos pelas artesãs — Foto: Fábio Tito/ g1

Em 2018, ela abriu o ateliê com peças decorativas e costura criativa. No ano seguinte, ela fez cursos e começou a produzir para vender os brinquedos inclusivos e livros sensoriais.

O carro-chefe do ateliê é um brinquedo em formato de livro, que ensina sobre organização pessoal (veja detalhes no vídeo). Além disso, também desenvolveu um boneco com figuras que expressam as emoções humanas, que facilita o entendimento sobre expressões faciais.

"A minha vontade sempre foi ir além, porque se eu posso fazer para ela [a filha], eu posso fazer para mais pessoas. O que eu busco muito com os meus brinquedos é estimular a criatividade das crianças, a imaginação e a interação familiar", diz Cristina.

Ensinando habilidades

Carla afirma a partir dos primeiros meses da filha, Luna, de 6 anos, começou a perceber sinais de desenvolvimento atípico. Ela passou a fazer bonecos com cores e texturas diferentes para facilitar a comunicação e desenvolvimento com a filha.

"Até então eu não tinha noção que fosse especificamente autismo, mas comecei a perceber alguns sinais quando ela tinha 5 meses de nascida", lembra.

Carla Duarte, artesã e empreendedora na Cailu — Foto: Fábio Tito/ g1

Ao buscar por um diagnóstico para a filha e também durante o acompanhamento nos tratamentos, Carla acabou reunindo elementos para desenvolver uma nova profissão.

Foi uma fonoaudióloga da filha, quem ajudou a "mãe de primeira viagem" neste processo e indicou que ela começasse a fazer algum tipo de trabalho manual em casa. "Vivia 100% do meu tempo para cuidar dela [filha], para fazer atividades com ela, para estudar sobre as necessidades dela. Foi quando contei o que já fazia e ela encomendou um avental para contar histórias", disse.

A partir disso, Carla começou a receber pedidos de outras profissionais. "Gosto de trabalhar do zero e com alguma específica necessidade da criança".

"Percebi com isso que posso com o meu trabalho não só criar recursos para vender porque esse é um objetivo de negócio, mas deixou ainda mais claro o meu propósito com o meu trabalho, que é mostrar que é possível ensinar habilidades", explica.

Hoje, Carla, Cristina e Márcia vendem seus produtos para profissionais da área de saúde e educação, mas pais ou outros familiares e amigos interessados em presentear alguma criança com os brinquedos também podem comprar, entrando em contato com elas por meio das redes sociais de suas respectivas empresas.


Fonte: G1



Postagem Anterior Próxima Postagem